São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997
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PC encontrou mafioso dias antes de morrer

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Uma semana antes de ser assassinado, em junho do ano passado, Paulo César Farias se reuniu em Maceió, Alagoas, com seus sócios narcotraficantes ligados ao crime organizado italiano.
No encontro, PC Farias discutiu com os membros da quadrilha -entre eles um sul-americano, provavelmente da Colômbia.
O motivo da discussão foi dinheiro. O tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello acreditava que havia sido roubado pelos traficantes durante o período que passou na prisão -de novembro de 93 a dezembro de 95.
A informação sobre a reunião foi dada à Justiça da Itália por um dos traficantes que participaram do encontro, segundo a Folha apurou junto a investigadores brasileiros que trabalham no caso. O depoimento foi registrado oficialmente.
Para a Polícia Federal brasileira, essa informação colhida pela Justiça e polícia italianas reforça a suspeita de que o empresário pode ter sido morto pela máfia em uma operação de queima de arquivo.
O inquérito da Polícia Civil de Alagoas concluiu que o caso foi um crime passional. Suzana Marcolino da Silva teria matado o namorado, PC Farias, e depois se suicidado com um tiro no peito.
A PF acredita que se for solucionada a morte de PC e Suzana ficará mais fácil saber detalhes do dinheiro sujo que o tesoureiro de Collor guardava no exterior.
Colaboração
A Justiça da Itália mantém em sigilo o nome do traficante que passou a informação do encontro de PC com seus sócios da máfia em Maceió.
Ele aceitou colaborar em troca de tratamento especial da Justiça -mecanismo previsto na legislação da Itália. Quem delata as atividades do crime organizado, mesmo tendo participado dos crimes, pode ter a pena reduzida.
O interesse maior da Itália é obter dados que possam levar à prisão e à condenação do chefe da rede de narcotráfico, que está foragido. O chefe tinha uma conta conjunta com PC Farias na Suíça, conforme revelou ontem a Folha.
As investigações revelaram que o chefe da rede de tráfico fazia depósitos na conta conjunta que mantinha com PC sempre que recebia um carregamento de droga vindo da América do Sul.
Ainda não está claro para os investigadores brasileiros e italianos se o fato é uma coincidência ou se o empresário tinha participação direta nessas operações do narcotráfico.
Caso difícil
A PF acredita que a solução da morte de PC continua sendo um caso difícil, apesar dos novos fatos que teriam antecedido a morte do empresário.
Isso porque investigação paralela feita à época pelo delegado da PF Pedro Berwanger constatou que a cena do crime havia sido "maquiada", o que elimina a possibilidade de esclarecer o caso por meio de exames de balística e perícia.
O delegado também verificou que pistas falsas foram colocadas para que a Polícia Civil de Alagoas concluísse pelo crime passional seguido de suicídio.
A apuração de Berwanger foi repassada à cúpula da PF e ao Ministério da Justiça informalmente, já que as investigações oficiais do inquérito eram de responsabilidade da Polícia Civil de Alagoas.
A PF concluiu que havia indícios de que PC e Suzana não morreram da forma como foi divulgado pela polícia alagoana, mas que não valeria a pena questionar o inquérito porque não haveria meios de provar que ele estava errado.
A prioridade da PF continua sendo encontrar e trazer de volta o dinheiro sujo que PC tirou do Brasil.

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