São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997
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Agência do Beron em SP lavou R$ 2 bi

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A agência do Beron (Banco do Estado de Rondônia) em São Paulo foi usada para a lavagem de cerca de R$ 2 bilhões entre 1993 e 1996.
O Banco Central suspeita que boa parte do dinheiro corresponda a lucros obtidos irregularmente com a negociação de títulos estaduais e municipais, mas o dinheiro pode ter qualquer origem.
O dinheiro entrava no Beron por meio de três instituições financeiras, também correntistas da agência: a corretora Perfil e as distribuidoras Negocial e Split. Era depositado nas contas de 62 empresas, a maioria de fachada.
As informações constam de um relatório de quase 600 páginas produzido por auditores do Beron e entregue ao BC em janeiro. O relatório foi obtido pelo deputado Luiz Gushiken (PT-SP), que vai entregá-lo à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Precatórios.
A CPI investiga a emissão e a negociação de títulos públicos, principalmente aqueles emitidos por Estados e municípios para o pagamento de dívidas judiciais, os precatórios.
Cruzando os dados do relatório do Beron com investigações que já vinha promovendo em corretoras e distribuidoras do mercado financeiro, o BC obteve indícios mais concretos de que existe um esquema montado para desvalorizar os títulos no leilão primário (quando os papéis são oferecidos pela primeira vez ao mercado).
O mecanismo faz com que os papéis rendam mais para o comprador, mas dá prejuízo para quem vende -no caso, Estados e municípios que acabam vendendo os papéis com grande desconto.
A agência paulista do Beron teria entrado no esquema pelas mãos do ex-gerente João Maury Harger Filho. Segundo depoimento de Sergio Mounib Derneka (dono de uma das empresas "laranja" do esquema) à CPI, era Harger Filho quem preenchia os cheques para a lavagem de dinheiro.
Derneka disse que assinava os cheques em branco e deixava com o ex-gerente. Outro "laranja" ouvido pela Folha, que por motivos óbvios não quis se identificar, confirma o procedimento.
Melhorar o desempenho
Harger Filho depôs na Polícia Federal em São Paulo, na semana passada, e disse aos senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Romeu Tuma (PFL-SP) que não havia qualquer esquema no Beron.
Ele afirmou que facilitava os depósitos e saques para alguns clientes especiais porque estava empenhado em melhorar o desempenho da agência que comandava.
O ex-presidente do Beron Francisco José Mendonça Souza disse à Folha que a auditoria criteriosa foi determinada porque o movimento na agência paulista parecia atípico.
Mas só depois de quatro meses de trabalho os auditores descobriram um esquema que ninguém imaginava existir.
"Se eu falasse disso há seis meses qualquer um diria que eu era maluco", disse Souza, que foi indicado para dirigir o banco pelo BC -o Beron está sob intervenção desde 1995.
Para tirar as dúvidas sobre até que ponto Harger Filho está implicado no caso, Suplicy e Tuma poderão fazer uma acareação entre ele e Derneka.
Derneka disse que criou a SMJT Assessoria Empresarial a pedido de Harger Filho para participar do esquema.
Derneka disse que tinha uma dívida grande em seu cheque especial e que ganhou R$ 23 mil para "alugar" a conta da SMJT para lavagem de dinheiro.

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