São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997
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Senadores tentam desqualificar críticas após revelação de lobby

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A descoberta de dois jornalistas que faziam lobby para o Banco Vetor serviu como pretexto para senadores atribuírem a esse tráfico de influência todas as reportagens críticas publicadas até agora sobre os trabalhos da CPI dos Precatórios.
"Houve notas aqui e acolá, matérias não completas, interpretações que estamos compreendendo melhor", disse o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), durante sessão do Senado em que o relator da CPI, Roberto Requião (PMDB-PR), anunciou ter encontrado correspondência e contrato dando notícia do lobby.
Requião aproveitou o pronunciamento para reclamar de reportagens que teriam objetivo de desqualificá-lo e atingir também os senadores José Serra (PSDB-SP), Esperidião Amin (PPB-SC) e Vilson Kleinubing (PFL-SC).
"Essa comissão começou a funcionar e, na medida em que chegou a alguns resultados concretos, passou a sofrer críticas pesadas de certos veículos de comunicação, de certos jornalistas", disse.
Já Suplicy também criticou notas, reportagens e editoriais tentando desencorajar, limitar e inibir o presidente da CPI, senador Bernardo Cabral (PFL-AM).
Mesmo antes da descoberta dos lobistas, em entrevistas coletivas, Requião insinuou que jornalistas que fazem perguntas críticas teriam ligações com suspeitos do esquema dos títulos públicos.
A CPI chegou a aprovar a convocação de dois jornalistas para depor, devido a artigos publicados: Luís Nassif, da Folha, e Celso Ming, do "Jornal da Tarde".
Acusações
Requião citou nominalmente o jornalista Alberto Dines, por ter publicado na revista "Observatório da Imprensa" um "artigo extremamente violento" contra ele.
O senador insinuou que o artigo de Dines teria sido pago pelo governo do Paraná, porque o jornalista é reitor da Universidade Virtual das Américas, criada pelo governo daquele Estado.
Segundo Requião, citado ontem pelo jornal "Gazeta Mercantil", Dines seria um reitor virtual que "certamente não tem um contracheque virtual".
Dines rebateu com veemência as acusações. "Isso é uma estupidez sem pé nem cabeça. Para ele, todas as críticas que recebe são matérias pagas", disse. "Ele vive num mar de lama, está 'sub judice' e quer agora jogar lama em quem tem uma reputação de 40 anos."
Contrato
A agência Aja, dos jornalistas Joaquim Nogales e Pedro Paulo Rezende, foi contratada pela empresa ADS para prestar assessoria de imprensa ao Banco Vetor, investigado pela CPI.
Nenhum deles era credenciado no Congresso, embora os pedidos estivessem sob análise na Câmara e no Senado.
A proposta de lobby da ADS tinha como objetivo "neutralizar" o trabalho da CPI e inocentar "completamente" o Vetor de envolvimento na fraude com títulos públicos. O contrato vendia o trabalho de dois "mais influentes e relacionados jornalistas" do Congresso.
Nogales disse ontem desconhecer os termos do contrato. Seu trabalho teria se resumido a pôr o diretor da ADS, Antonio de Salvo, em contato com representantes do jornal "O Globo" e "Correio Braziliense". Rezende negou ter trabalhado na assessoria ao Vetor.

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