São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997
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Cresce mortalidade entre mulheres mais pobres

DA REPORTAGEM LOCAL

A queda no número de mortes em São Paulo vem sendo puxada por uma maior sobrevida entre os homens. As mulheres, ao contrário, especialmente as moradoras dos bairros mais pobres, nunca tiveram mortalidade tão alta.
Um estudo do Pró-Aim, que dividiu a cidade de São Paulo por áreas de acordo com a escolaridade do chefe da família, mostra que o crescimento das mortes entre mulheres é maior nos bairros da periferia.
Nesses bairros, as mortes entre as mulheres no período de 1994 a 1996 aumentaram 50,3% -passaram de 173 para 260. Ao contrário, nos bairros com maior escolaridade, o número de mortes entre os homens caiu 23,0%.
A divisão da cidade por escolaridade foi construída pelo Pró-Aim e pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Segundo Marcos Drumond, do Pró-Aim, o critério de escolaridade revela o acesso das famílias ao mercado de trabalho e, consequentemente, à informação, à moradia e aos serviços de saúde.
As áreas 1 e 3 são os extremos. Na primeira -onde 31,6% dos chefes de família têm curso superior-, estão bairros como Vila Mariana, Pinheiros, Vila Madalena, Lapa e Santa Cecília, entre outros. Na área 3 -onde apenas 1,9% terminou curso superior- está a grande maioria dos bairros pobres da periferia. Na área 2 estão os bairros intermediários.
É nos bairros da área 3 que as mulheres estão morrendo e se infectando em maior número. As mulheres, no entanto, não querem ser identificadas apenas como vítimas, diz Erika (o nome é fictício), uma participante do GIV, grupo de auto-ajuda de São Paulo. "As mulheres não acham que os homens são os únicos culpados", diz Eduardo Luiz Barbosa, presidente do GIV. "Nós também damos as nossas escapadas e cometemos os nossos descuidos", disse Erika.
Casos em alta
Outra preocupação é o fato de o número de casos notificados continuar em ascensão. Segundo dados do CRT-Aids, da Secretaria da Saúde, a incidência vem se mantendo estável nos últimos quatro anos. Ou seja, o total de pessoas que caem doentes por grupo de 100 mil habitantes não está caindo.
Naila Janilde Seabra Santos, do Centro de Referência em Aids, afirma que a balança da doença por sexo aponta uma mulher doente para cada três homens. Essa também é a proporção entre as mortes. Em vários serviços do Estado, a média já caiu para dois doentes por uma infectada.
Segundo a médica, espera-se que a epidemia esteja atingindo um platô, mas nada indica que haverá uma redução.
Também a sobrevida é questionada por Naila. Segundo ela, apenas os pacientes com melhores recursos estão conseguindo viver por mais tempo. A média no Estado, até quatro anos atrás, era de 11 meses, três vezes menos que nos EUA. "O acesso aos serviços médicos vêm se ampliando, mas não acredito que a sobrevida já tenha chegado a dois anos", afirma.

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