São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997 |
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Como se fabrica um escândalo
LUÍS NASSIF Ontem, o relator da CPI dos Precatórios, senador Roberto Requião, efetuou descobertas extraordinárias: as vinculações na imprensa com o esquema dos precatórios.É um episódio exemplar para mostrar como se fabrica um escândalo para se atingir desafetos. O interventor do Banco Central no Vetor localizou proposta de uma assessoria de imprensa de São Paulo -a ADS Assessoria de Comunicações Ltda.- oferecendo seus trabalhos. A assessoria oferecia possibilidade de contatos com parlamentares e jornalistas em São Paulo e Rio, e um trabalho de assessoria governamental em Brasília, que "será realizado pelos dois mais influentes e relacionados jornalistas que cobrem a Câmara e o Senado Federal". No final, propunha que "caso nosso trabalho consiga neutralizar a Comissão ou prolongar suas atividades para não resultar em nada, ou, ainda, inocentar completamente a empresa de S.Sa. faremos jus a um 'success fee' de R$ 120 mil". Enfim, uma típica assessoria de imprensa que procurou arrancar grana a mais dos incautos com uma picaretagem: ganharia dinheiro se a CPI não chegasse a lugar nenhum -algo sobre o qual ela não tinha o menor controle. Os critérios da CPI Recebendo a carta do interventor, à meia-noite de segunda-feira, Requião procurou uma jornalista de Brasília, e lhe ofereceu exclusividade na matéria, se ela ajudasse a apurar as informações. Perguntou quem seriam os tais "dois dos mais influentes jornalistas do Congresso". A jornalista não sabia, mas começou a fazer conjeturas em voz alta, sem nenhuma ilação com irregularidades. Podia ser o Fernando Lemos, ou beltrano, ou sicrano. No dia seguinte, a jornalista soube pela ADS que um dos jornalistas em questão era Joaquim Nogares, repórter que trabalhou em "O Globo". Nogares havia levado o pessoal do Vetor para conversar com o "Correio Braziliense" e a sucursal de "O Globo". Em suma, um trabalho de assessoria convencional e explícito, já que ele não trabalha mais na imprensa. Falta de equilíbrio Com base nesses fatos, o senador Roberto Requião foi ao Senado e deitou e rolou. Fez ilações entre o "esquema da ADS" e críticas que andou recebendo nos últimos dias por seu destempero e falta de equilíbrio. Mencionou nominalmente respeitado jornalista, que escreveu artigo com críticas para o "Observatório de Imprensa". E aproveitou para fazer insinuações -sem mencionar o nome- contra o jornalista econômico que o havia criticado recentemente: no caso, eu. O discurso de Requião foi apoiado pelos senadores Pedro Simon e Eduardo Suplicy -que declarou que a carta demonstrava que pessoas profissionalmente pagas para implodir a CPI estariam por trás de algumas matérias que saíram na imprensa. Indaguei do senador Suplicy que matérias seriam essas. Uma, era a matéria de uma revista semanal, dizendo que a CPI terminaria em pizza. Outra, o editorial de um dos maiores jornais brasileiros, com críticas aos exageros de Requião. Tudo isso teria sido possível graças ao contrato firmado entre um banco de terceira, o Vetor, e uma assessoria picareta de São Paulo -uma extraordinária demonstração de discernimento da parte de nossos senadores. Tergiversações À noite, a informação de que Fernando Lemos era o jornalista em questão estava na televisão e nos jornais, como se fosse verdade acabada. Da mesma maneira que outras informações levantadas preliminarmente pela jornalista. Na manhã de ontem, Requião ligou para a jornalista. Ela lhe cobrou duramente o fato de ter espalhado conjeturas como se fossem informações acabadas. Requião tergiversou. Disse que o senador José Serra é que tinha descoberto as mesmas coisas e andava espalhando para a imprensa. A jornalista foi incisiva. Disse para Requião que os colegas já a haviam informado de que ele era o autor dos boatos. Ou seja, Requião manipulou informações, utilizou-as de maneira incompleta, valeu-se de generalizações, com o fito de atingir pessoas que o criticaram nos últimos dias. Algo tao irresponsável como dizer que o jornalista que criticou o Banco Central por ter vazado material contra Celso Pitta, às vésperas das eleiçoes, estava a soldo de Maluf. Era justamente sobre essa maneira de manipular as informaçoes que a coluna de domingo procurou alertar. Agora, está aí a prova acabada. Mensagens Recebi a seguinte mensagem do senador Arthur da Távola (PSDB-RJ): "Cada vez mais aprecio seus comentários e sua coragem moral. Parabéns efusivos pelo artigo "A CPI e os dentes do tigre". Texto Anterior: De como afundar um país e ser "modernoso" Próximo Texto: Alimentos pressionam e IPC vai a 0,10% Índice |
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