São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997
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IELTSIN RESPIRA

Abalado fisicamente, vencedor nas urnas, mas à custa de alianças de última hora, e obrigado a enfrentar um início de insubordinação militar (o caso envolvendo o general Lebed). Motivos não faltam para que o presidente da Rússia, Boris Ieltsin, conviva com sérias ameaças ao seu poder.
Tentando talvez exorcizar o início desafortunado de seu segundo mandato, os oito meses de afastamento, uma operação cardíaca e uma pneumonia, Ieltsin determinou ao seu premiê, Viktor Tchernomirdin, que fizesse uma completa reforma ministerial. O prazo dado pelo presidente russo para o anúncio da mudança foi de uma semana.
A ordem presidencial parece sinalizar uma nova disposição política. Ieltsin não explicitou nenhum critério para a reforma, não fez críticas explícitas ao trabalho de auxiliares, não lançou qualquer nova bandeira. Apenas pediu um enxugamento do gabinete e reafirmou seu poder pessoal, no melhor estilo da tradicional gerontocracia soviética.
O drama da sociedade russa, hoje, é estar praticamente estagnada em meio a um dos mais colossais esforços de transição do comunismo à economia de mercado deste final de século. O próprio Ieltsin afirmou, ao anunciar sua decisão quanto à reforma ministerial, que o país ainda se debate numa "enchente de problemas". Entre os mais graves, está a incapacidade de o governo pagar em dia salários e pensões de milhões de trabalhadores e aposentados.
Além da crise econômica, o governo russo segue enfrentando uma oposição cada vez mais radical no Parlamento e ondas recorrentes de insatisfação no meio militar.
Reafirmando o seu poder, o presidente Boris Ieltsin dá apenas o primeiro passo numa trajetória política que continua tão incerta quanto era quando a antiga União Soviética começou a se desintegrar.

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