São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997
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O público para o público

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A avaliação das universidades, que Gilberto Dimenstein antecipou ontem nesta Folha, serve, acima de tudo, para que se faça ouvir uma coisa óbvia, mas que fica sepultada pela ensurdecedora gritaria pró-mercado hoje hegemônica.
O setor privado não é necessariamente melhor do que o público. Pelo menos no ensino superior, as universidades públicas superam as privadas.
Essa constatação deve ser comparada com outra, nascida de avaliação similar feita em São Paulo pela Secretaria da Educação: no ensino básico, pelo menos no paulista, sim, o setor privado vai bem melhor do que o público.
Somadas as duas evidências disponíveis, volta-se a um ponto que nem é meu nem é novo: foi exposto nesta Folha, no ano passado, por Celso Pinto, a partir de alentado estudo do Banco Mundial sobre educação.
Se o Celso me permite o risco da simplificação, a equação política decorrente de tal estudo ficaria assim: o ensino superior público pode ser melhor do que o privado, porque boa parte de sua clientela é formada pelos filhos dos ricos e da classe média alta, cujo poder de pressão sobre os governantes é enorme.
Já o ensino básico público fica para os mais pobres, que não têm idêntico poder de demanda.
Ou seja, importa menos se o ensino é público ou privado e mais se os governantes governam para as maiorias ou para as minorias.
Esse é o ponto politicamente relevante.
No Brasil, o Estado foi privatizado em favor do que os argentinos gostam de chamar de "poderes fácticos", ou seja, de quem dispõe de fato do poder, ainda que não esteja necessariamente nos palácios governamentais.
Inverter essa regra histórica não é mais apenas uma questão ética, mas de sobrevivência do país em um mundo em que educação passa a ser mais importante do que minérios ou petróleo para a prosperidade com maior igualdade.

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