São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997 |
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Enfim, um sucesso
CARLOS HEITOR CONY Rio de Janeiro - Parece que o melhor programa da TV, atualmente, está naquele canal do Senado. A coisa começou timidamente, com os desabafos de um ou outro senador, o gestual de Pedro Simon, as cortadas truculentas do ACM. Por mais emocionantes que fossem as sessões, o apelo era nenhum, seria uma espécie de Assembléia de Deus, uma cerimônia na Igreja Universal, exclusiva para iniciados.Com a CPI dos Precatórios a temperatura subiu. Ficou melhor do que um programa de auditório, mais intrigante do que as novelas. Sei de gente que não sai de casa para assistir os depoimentos e acareações. Nem se trata de patriotas ou de cidadãos que se interessam pelo erário ou pela moral pública. Buscam apenas distração, sabendo que estão servidos por atores autênticos, cada qual representando a si próprio, que há mocinhos e bandidos, que a trama é complicadíssima e nunca terá solução. É uma obra em progresso, como queriam James Joyce e Ezra Pound. Ela se realiza à medida que é feita. Os personagens parecem saídos da vida real. E olha que alguns deles foram governadores de Estado e ministros, como os senadores Esperidião Amin, Roberto Requião e Bernardo Cabral. Escondiam o jogo: só agora descobriram a verdadeira vocação. E há o outro lado: os eternos desconhecidos do grande público, senhores com boas relações no mercado, que ganham e pagam milhões de dólares com o enfado do comum dos mortais quando paga a conta do gás ou recebe a minguada pensão do INSS. Parece que todos nasceram para representar aquele papel, dizer aquelas palavras. Até mesmo os garçons que passam ao fundo, levando a bandeja com os copos de água, até eles mereceriam um Oscar na categoria de coadjuvante. A teledramaturgia nacional encontrou um caminho para contrabalançar a onda mexicana que nos ameaça com suas deliciosas peruas e seus tenebrosos desfechos. Texto Anterior: Miopia Próximo Texto: Disse-que-disse Índice |
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