São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
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Receita vê país como centro de lavagem

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil figura na lista dos dez principais centros de lavagem de dinheiro do narcotráfico e do contrabando. A estabilização econômica facilitou a entrada do país nesse ranking.
Essa síntese foi apresentada por Deomar de Moraes, coordenador-geral de Pesquisa e Investigação da Receita Federal na abertura do Seminário Internacional sobre Lavagem de Dinheiro, em Brasília.
O posto do Brasil na lista foi uma das razões pelas quais o IRS (Internal Revenue Service, o fisco norte-americano) escolheu o país para a terceira edição desse seminário.
"A reboque do crescimento econômico, elevados percentuais de contas bancárias de traficantes internacionais obtiveram ancoradouro no sigilo bancário de nossas instituições", afirmou Moraes.
"Nosso país ficou entre as dez principais praças dos narcodólares. Daí dizermos que aqui se lava mais branco", completou ele.
Moraes disse que a lavagem de dinheiro, fraudes financeiras e rombos nos cofres públicos que ocorreram no país entre 90 e 96 movimentaram US$ 28 bilhões.
A cifra não inclui o prejuízo para Estados e municípios de R$ 400 milhões a R$ 600 milhões estimado pela CPI dos Precatórios.
Esse, porém, é um dos principais alvos da Receita, que investiga as pessoas físicas e empresas envolvidas no escândalo dos títulos públicos a pedido da própria CPI.
Segundo Moraes, operações financeiras sofisticadas -como as usadas pelos envolvidos no caso- superaram técnicas antes usadas para a lavagem -como a compra de bilhetes de loteria, base do escândalo do Orçamento.
Moraes acrescentou que estudos de organismos mantidos pelo G-7 (o grupo dos sete países mais ricos) mostram que o contrabando de dinheiro, títulos e mercadorias nas fronteiras tornou-se também mecanismo comum de lavagem de dinheiro. É o que vem acontecendo nos Estados Unidos.
Durante o seminário, Thomas Brown, chefe do Departamento de Narcóticos e Lavagem de Dinheiro do IRS, afirmou que os Estados Unidos pretendem agir em conjunto com outros países no combate à lavagem de dinheiro.
Ele e seus colegas do IRS vieram a Brasília ensinar técnicas de investigação e inibição dessas atividades ilegais a brasileiros e representantes de 17 países da América do Sul.
Paralelamente ao evento, técnicos da Receita e do IRS preparam o texto do acordo que deve eliminar a bitributação nas transferências de dinheiro entre EUA e Brasil e permitir a troca de informações fiscais entre ambos os organismos. Esse é o instrumento que falta nas investigações sobre PC Farias.

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