São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
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Yes, nós temos cangaço

LÚCIO RIBEIRO
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Depois que o filme cearense "Corisco e Dadá", dirigido por Rosemberg Cariry, conseguiu reintroduzir o cinema do Brasil no circuito de Paris em 1996, a idéia neste ano é carregar o imaginário popular nordestino a uma mostra a ser realizada em Nova York no segundo semestre.
E, antes disso, se depender do favoritismo propagado pelos bastidores do 1º Festival de Cinema do Recife, emplacar "O Cangaceiro" como uma das produções escolhidas para representar o país no Festival de Cannes 97 e encaixar "O Baile Perfumado" na Quinzena dos Realizadores do evento francês, que começa em maio.
O resgate às telas do gênero imortalizado por Lampião está tão latente que o Festival Encontro do Cinema da América Latina, que começou ontem em Toulouse (França), incluiu em sua programação uma mostra de longas brasileiros que falam do cangaço.
Já o evento nova-iorquino, que deve levar os atuais representantes do cangaço no cinema e ainda velhas produções sobre a temática, está sendo organizado pelo próprio diretor de "O Cangaceiro", Anibal Massaini Neto.
"Quem me convidou a organizar esse ciclo foi Fabiano Canosa, um brasileiro que tem um cinema em NY e realiza mostras, eventos. Misturando filmes antigos e os novos, ele acha que o cangaço está pronto para ter um ciclo", disse Massaini à Folha no último domingo em Recife, na véspera de seu filme ser exibido pela primeira vez ao público e à crítica.
"O Cangaceiro", cuja avant-première iria encerrar o Festival de Recife ontem à noite, é um daqueles filmes muito comentados em sua fase de pré-produção. Nem parece que absolutamente ninguém o teria visto até ontem à noite.
As razões: é um remake do clássico de Lima Barreto de 1953, vencedor de prêmios nos festivais de Cannes, Berlim e Mar del Plata, um dos principais recordes de bilheteria do cinema nacional para a época, e um dos filmes latino-americanos mais vistos por uma platéia internacional.
O novo "O Cangaceiro" também mescla em seu elenco atores conhecidos da televisão (Paulo Gorgulho, Luiza Tomé, Claudio Mamberti, Jofre Soares) e do cinema (Alexandre Paternost, de "O Quatrilho") com revelações como Tom do Cajueiro (ver texto nesta página), garoto de 11 anos que é o fio condutor da trama.
Lampião em carne e osso
O companheiro do filme de Massaini nessa espécie de "cangaço beat" (alusão ao mangue beat, cena musical pernambucana) é o badalado "O Baile Perfumado", dos diretores Paulo Caldas e Lírio Ferreira.
Grande vencedor de Brasília 96, o filme abriu o Festival de Recife e foi ovacionado depois de sua exibição, por mostrar uma nova versão da história de Lampião, do ponto de vista do marketing, do cangaceiro preocupado tanto em cortar cabeças quanto em passar perfume francês. O filme "O Baile Perfumado" utiliza em sua narrativa imagens reais de Lampião.
"O Cangaceiro" estréia no final do mês no Nordeste e deve chegar ao resto do país em maio. Já "O Baile Perfumado", que em São Paulo abriu o festival dos melhores filmes de 96 do Cinesesc na semana passada, entra em cartaz primeiro em Recife, em maio, para depois estrear no eixo Rio-SP.

O jornalista Lúcio Ribeiro viaja a Recife a convite do festival

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