São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
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Diretor coreano desafia opressão de seu país

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

Considerado o mais importante cineasta do renascimento do cinema coreano, Jang Sun Woo, 45, é um exemplo de talento desenvolvido sob condições adversas.
No final dos anos 70, ele era um bem-sucedido teatrólogo oposto ao regime militar na Coréia do Sul. Acabou preso e torturado ao distribuir folhetos sobre o massacre de Kwangju. Enquanto o país se rebelava contra o assassinato de 200 civis por tropas do Exército em maio de 1980, Woo decidia em sua cela que alcançaria a liberdade e faria filmes dali em diante.
Desde que foi libertado, Woo dirigiu um filme por ano. Teve o polêmico "Seoul Jesus" censurado e banido na Coréia do Sul. Foi premiado em Berlim com "Hwaomkyung" em 1994 e incluído na celebração do centenário do cinema em Cannes em 1995 com "Cinema on the Road".
Em 1996, Woo quis fazer as pazes com o passado e filmou "A Petal", que conta os acontecimentos que levaram ao massacre de Kwangju por meio da história de uma menina anônima que perde a família e passa a vagar demente pelo interior do país.
A crua beleza de "A Petal" chamou a atenção do produtor Albert Ruddy, de "O Poderoso Chefão". Jang Sun Woo está animado com a possibilidade de fazer filmes nos Estados Unidos. Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu durante o 15º Asian American Film Festival, que aconteceu no início do mês em San Francisco.
*
Folha - "A Petal" é seu primeiro filme abertamente político, mas não foi censurado na Coréia. Tem fortes cenas de sexo e inclui um estupro. Nem o governo nem o público se chocam com o retrato que o senhor faz do país?
Jang Sun Woo - A censura não existe mais na Coréia. No entanto, o estado político real é tão opressivo no país que as emoções e reações das pessoas também são reprimidas e usualmente acabam projetadas de forma violenta. Por isso o sexo está ligado à violência em meus filmes.
Folha - O sr. se identifica com algum personagem de seus filmes?
Woo - Identifico-me com o menino em "Hwa Om Kyung", que procura a mãe e acaba alcançando a espiritualização. Também evoluí, indo a vários locais e encontrando pessoas. Não consigo ficar num só lugar, preciso me mudar para continuar criando.
Folha - Quais diretores o inspiram?
Woo - Nenhum em particular, até porque não comecei a fazer filmes porque gostava de cinema. Pelo contrário, decidi ser cineasta e aí fui pesquisar e assistir filmes.
Folha - O sr. se considera um pivô da revolução cinematográfica na Coréia ou encara tal idéia como exagero da imprensa?
Woo - Acho apenas que capto rapidamente assuntos e acontecimentos, levando-os para a tela. Por isso meu trabalho é tão controverso.
Folha - Após o sucesso em Berlim, há interesse de produtores americanos em trabalhar com o senhor. Quais suas expectativas a esse respeito?
Woo - Minha obra continuará se concentrando em problemas específicos da Coréia. Fico tentando imaginar se o público ocidental entende meus filmes e se identifica problemas comuns ou se o objetivo se perde.
Folha - Entre seus filmes, há algum que é mais bem aceito no Ocidente que no Oriente?
Woo - É o caso de "Hwa Om Kyung". A busca do menino parece atingir melhor o público daqui. Fiz o filme pensando nisso. Tem um ritmo lento, mais tolerado pelo público ocidental. Quero ser entendido pelos coreanos em primeiro lugar, pois lido com assuntos sobre os quais acho que meu povo deve refletir melhor. Mas claro que, se me entendem aqui também, é bom. Quer dizer que estamos todos conectados.

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