São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
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Viajando (nos dois sentidos)

CLÓVIS ROSSI

Bonn - Cada viagem à Europa faz aumentar a indignação pelo descaso com que o Brasil trata suas ferrovias.
Não parece haver meio de transporte mais civilizado do que o trem, desde que levado a sério. Tome-se o caso da viagem entre o aeroporto de Frankfurt, maior porta de entrada na Alemanha, e Bonn, ainda a capital.
São 179 quilômetros que o "InterCity" (o expresso) engole em mera 1h44m (incluídos imperdoáveis três minutos de atraso).
Tempo imbatível pelo automóvel, mesmo nas impecáveis auto-estradas alemãs.
O avião é bem mais rápido, claro, mas não oferece nem o conforto do trem nem a paisagem magnífica, ainda mais nesta época do ano, finzinho de inverno.
Aquele verde quase cinza dos esqueletos de árvores já está sendo salpicado de um amarelo vivo e, a partir de Mainz, fica até difícil escolher para qual lado olhar. De um, uma pilha de casinhas que parecem de boneca, mas em tamanho grande. Do outro, o Reno correndo manso.
O mau humor inevitável da noite insone a bordo do avião, até Frankfurt, agravado pelo extravio (temporário) da bagagem, não resiste ao panorama, ao sossego, à possibilidade de esticar tranquilamente os 90 cm de pernas no compartimento vazio.
Só não sei quanto tempo mais o trem resistirá ao chamado progresso. Só pode dar prejuízo, tantos são os vagões para tão poucos passageiros, pelo menos nesse trajeto e nesse dia.
Só trocaria o trem pela BMW da embaixada brasileira em Bonn. Aliás, nem pelo carro em si, mas pelo inacreditável computador de bordo. Tem armazenados na memória todos os destinos possíveis não só de toda a Alemanha, mas também da Bélgica e da Holanda.
Basta ao motorista selecionar o local ao qual quer ir. O computador indica a distância a percorrer e o caminho a seguir. E em três idiomas (francês e inglês, além do alemão).

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