São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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Ofício autorizou operação de R$ 70 mi

FERNANDO GODINHO

FERNANDO GODINHO; ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Precatórios encontrou ontem mais um documento que pode comprovar as relações entre o ex-secretário das Finanças e hoje prefeito de São Paulo, Celso Pitta, e o Banco Vetor -principal instituição investigada pela CPI.
Em 27 de setembro de 95, o então secretário enviou um ofício ao Banco do Brasil determinando a venda de um lote de R$ 70 milhões de títulos municipais ao Vetor. O ofício está assinado por Pitta.
A carta foi despachada à CPI em Brasília do Rio, onde técnicos da comissão fizeram vistorias na sede do Banco Vetor.
Desde que funcionários da Coordenadoria da Dívida Pública do município -subordinada à Secretaria das Finanças- passaram a ser investigados pela CPI, Pitta vem declarando não ter qualquer relacionamento com o Vetor.
Os títulos foram vendidos com deságio de 11,08% e remunerados por 0,41% ao dia acima da taxa Selic -remuneração média dos títulos públicos. Sem o deságio, a operação resultaria em receita de R$ 79,367 milhões para a prefeitura.
O presidente da CPI, senador Bernardo Cabral (PFL-AM), disse que "há uma contradição" nas declarações do prefeito. "Pitta havia dito que não tinha nenhuma relação com o Vetor. Se há fraude, isso vai ser apurado depois."
Para ele, a CPI tem um "indício" de que houve um "relacionamento" entre Pitta e o Vetor.
A CPI já descobriu que o Vetor pagou o aluguel de um carro para Nicéa Pitta, mulher do prefeito. Pitta disse que o carro foi alugado por assessores e que não sabia que o Vetor pagou a conta.
Esse banco está diretamente ligado a Wagner Baptista Ramos, ex-coordenador da Dívida Pública paulistana. Por meio da corretora Perfil, o Vetor contratou Ramos para lançar os títulos de Santa Catarina e Alagoas destinados a pagar precatórios (dívidas resultantes de sentenças judiciais).
Essas operações estão sendo investigadas pela CPI e podem ter provocado um prejuízo de R$ 600 milhões aos Estados.
'Desconfortável'
O senador Esperidião Amin (PPB-SC), aliado de Pitta na CPI, defendeu que o caso seja explicado o mais rápido possível. Mas ponderou que o então secretário não estava "na ponta" das negociações e que assinar documentos "fazia parte da função dele".
Segundo o senador Vilson Kleinubing (PFL-SC), o deságio oferecido pela prefeitura foi alto. Para ele, o ofício "deixa o prefeito em uma posição desconfortável".

Colaborou Alex Ribeiro, da Sucursal de Brasília, e a Sucursal do Rio

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