São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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Globalização afeta saúde, diz médica

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

As cerca de 700 mulheres de 72 países que encerraram ontem no Rio de Janeiro o 8º Encontro Internacional Mulher e Saúde estão voltando para suas casas mais preocupadas que otimistas.
As sete páginas da Declaração da Glória -referência ao hotel onde aconteceu o encontro- dedica mais espaço aos "novos obstáculos e desafios" que a conquistas e glórias do movimento.
O documento começa dizendo que houve "avanços significativos nos últimos três anos" e que o movimento se fortaleceu e ampliou a atuação no campo da saúde reprodutiva e da sexualidade.
Porém muitas das propostas feitas no último encontro, em 1993, em Uganda, continuam apenas intenções. "A última década foi de ganhos em papéis e documentos", diz Suzana Maranhão, do Centro de Informação da Mulher. "Mas a implantação ainda está para ser feita em vários países."
Junte-se a isso os novos obstáculos que surgem com a ascensão das correntes que o documento chama de "fundamentalismo do mercado e fundamentalismo religioso". "A globalização da economia inclui e exclui; e as mais excluídas são as mulheres, porque a globalização prejudica as políticas de saúde", diz Eleonora Menicucci de Oliveira, do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Saúde da Mulher da Escola Paulista de Medicina.
A médica Maria José de Oliveira Araujo, da Rede Nacional Feminista, disse que mulheres de muitos países -do Primeiro ao Terceiro Mundo- se queixaram da queda na qualidade dos serviços públicos de saúde.
No Estado de São Paulo, diz, a mortalidade materna por 100 mil nascidos vivos aumentou de 98 em 1995 para 135 no ano passado.
A outra frente de preocupação é o fundamentalismo religioso emergente. Em países como Mauritânia, Sudão e Afeganistão, a discriminação contra as mulheres é tão forte que, em casos de sequelas do aborto, por exemplo, elas são abandonadas em hospitais.
As mulheres consideram que conquistas profundas relativas aos direitos reprodutivos e da sexualidade dependem da educação e da formação das pessoas.
A Declaração da Glória lembra que é preciso intervir nas políticas educacionais para eliminar os preconceitos contra a mulher.
"Atenção especial deve ser dada ao treinamento dos professores primários para uma sensibilização de gênero e educação sexual". Também considera importante "intensificar o treinamento e sensibilização dos profissionais de saúde, e influenciar nos currículos" das escolas que os formam.

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