São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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Casarão invadido vira 'condomínio'

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A organização das 400 famílias de sem-teto que ocupam o complexo do casarão de Santos Dumont na região central de São Paulo desde o último dia 9 transformou o local em um condomínio. Horários devem ser cumpridos à risca e as decisões, tomadas após assembléias diárias.
O complexo fica na esquina das alamedas Nothmann e Cleveland, em Campos Elíseos. Passados 12 dias da invasão, as quatro casas do local e uma outra construção, onde são realizadas as assembléias, já estão com luz instalada. Toda a instalação é fruto de gambiarras.
Os novos pontos de luz foram puxados de apenas três pontos existentes antes da invasão, na sala ocupada por vigilantes contratados pela Secretaria de Estado da Cultura, dona do imóvel. O local já era abastecido com água, segundo Verônica Krell, coordenadora do Fórum dos Cortiços da Cidade de São Paulo e líder da invasão.
"Só ligamos os chuveiros. O pior foi a conta de água (medida dia 10), de R$ 4.474,00."
Outro ponto forte dos invasores é a organização.
Avisos na entrada da casa dizem que é proibida a entrada de pessoas no casarão após a meia-noite e que não serão aceitos invasores que não tenham recebido carta de crédito da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo).
Mario José de Aquino, que colocou os avisos, diz que, antes, o complexo de casas era usado por viciados em drogas e marginais. "Hoje eles não entram mais aqui. Eu mesmo já barrei muitos na porta", afirma.
"A gente está mostrando que as pessoas dos cortiços, antes tratadas como 'não-gente', podem se organizar", diz Verônica. Assembléias entre os sem-teto estabeleceram horários-limite para todas as atividades nas casas. Café, almoço, jantar e as próprias assembléias têm horários rígidos.
Tevê
Em um módulo ocupado pela família do carregador Francisco Vieira da Silva, 38, há um aparelho de TV em cores com controle de remoto, que ainda está sendo pago, parcelado em sete vezes.
O aparelho é o único nas quatro casas e se tornou uma espécie de televisão comunitária.
"Quando tem matéria mostrando o pessoal do casarão, todo mundo vem dar uma olhada", conta Vera Lúcia da Silva, 34, mulher de Francisco.
A TV foi um dos objetos trazidos do barraco na favela do Gato, no Bom Retiro, onde a família estava morando até a invasão.

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