São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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Entenda o "Bhagavad Gita"

. De onde deriva
Do "Mahabharata", poema épico em sânscrito, que difunde os princípios do hinduísmo, tem cerca de 104 mil estrofes e mais de cem capítulos.
O "Bhagavad Gita" é um dos capítulos (o 63º). Soma 700 estrofes, distribuídas em 18 subcapítulos

. Quando surgiu
Há aproximadamente 5.000 anos, na Índia

. Quem o escreveu
Viassadeva, uma das encarnações literárias de Deus -aquele que vem à Terra para compilar os textos sagrados do hinduísmo

. Sobre o que fala o "Mahabharata"
Sobre a saga dos Kurus, a família real indiana que se envolve numa guerra fratricida. Os cinco filhos do rei Pandu, os pândavas, disputam a sucessão do trono com seus cem primos paternos. A batalha -que dura apenas 18 dias, mas faz milhões de mortos- ocorre em Kuruksetra, um campo perto da atual Nova Déli

. O que narra o "Bhagavad Gita"
O diálogo entre Árjuna (um dos pândavas) e Krishna (seu primo materno, amigo e confidente). A conversa, embora longuíssima, se dá numa fração de segundo, pouco antes de o conflito começar.
Krishna -que, na verdade, é a principal encarnação de Deus- dirige o carro de guerra onde está Árjuna.
Mal o "Gita" se inicia, o pândava pede para o primo levá-lo até o meio do campo de batalha. Chegando lá, vê os dois exércitos perfilados e ameaça não lutar. Traz o coração pesado por ter de enfrentar os parentes

Quais os argumentos de Árjuna para não brigar
O bem comunitário, a preservação dos valores familiares, o repúdio à violência, a recusa ao poder material.
O pândava diz, por exemplo: "Se a família é destruída/ a eterna religião/ da tradição familiar/ fica também abolida./ E o que resta da família/ segue rumo à perdição"

O que responde Krishna
A "suprema personalidade de Deus" tenta convencer Árjuna de que o melhor é lutar. Para tanto, usa dois tipos de argumentos:

1) Os "sakamas" - Referem-se à responsabilidade social dos indivíduos. Krishna ensina que não se pode fugir do "dharma", o papel que cada pessoa desempenha na sociedade. Árjuna é um guerreiro. Não deve, portanto, renunciar à guerra.
"Como kshatria seu dever/ é participar na luta/ pela causa da verdade./ Nada pode ser melhor/ do que combater por ela./ Não hesite nesta luta", diz para o primo desencorajado

2) Os "niskamas" - Referem-se à espiritualidade. Krishna afirma que Árjuna, lamentando a morte iminente dos familiares, demonstra não compreender a natureza do ser. A vida não está no corpo, mas na alma. Quando o corpo se torna imprestável, a alma -que é eterna- o abandona e toma outro corpo.
"Como a alma que se encarna/ passa sucessivamente, /no mesmo corpo, da infância/ à juventude e à velhice,/ igualmente após a morte/ ela toma um novo corpo./ E os sábios não se perturbam/ com essa transmigração", ensina Krishna

O que mais diz o primo de Árjuna
A "encarnação de Deus" também transmite para o pândava os segredos da "bhakti", a "ciência suprema". Somente depois de os conhecer, Árjuna conseguirá atingir a principal meta da existência: desapegar-se do corpo e cumprir seu papel social para, então, se unir amorosamente a Deus

O que faz Árjuna no final
Ouvindo as palavras do amigo, ganha motivação e se dispõe a lutar. O "Gita" termina com o seguinte ensinamento: "Onde quer que esteja Krishna -mestre supremo da yoga- e onde quer que esteja Árjuna -o arqueiro transcendental-, haverá grande opulência, poder, vitória e virtude"

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