São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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Artista se inscreve entre os mais completos dos 90

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Pouco se tem falado de Ben Harper, um dos mais importantes e completos músicos apresentados no cenário destes anos 90.
No velho embate entre pop branco e pop negro, Harper, legítimo representante do último, não deixa de ser -ainda que formalizado pela veiculação na MTV- um pária, como párias foram Marvin Gaye ou Gil Scott-Heron diante do rock branco de bandas como Led Zeppelin ou Aerosmith.
Pois bem, Harper é representante negro de tendência das mais "up-to-date" nos 90, a de reformular e atualizar de forma consequente conceitos constituídos ao longo de quatro décadas de pop, desde o advento de Little Richard.
É o criador de um novo estilo -ainda não-batizado, em fenômeno análogo ao que ocorre com o branquelo Beck-, numa síntese obtida da recombinação inteligente de soul, rhythm'n'blues, gospel, funk, blues, hip-hop...
Provando a complexidade de tal prática, Harper faz de um gênero mais branco que negro -o folk, estilo que vem sendo revalorizado nesta década- um dos mais marcantes em sua música.
Tem colado a si, de forma inseparável, um Weissenborn, tipo exótico de "slide guitar" que teve seu apogeu entre os anos 20 e 30 e que imprime ao som Harper marca inconfundível.
Quanto à sua música, ela é sustentada por alguns pilares bem definidos: o compasso percussivo que delineia cada canção, a delicadeza de cada arranjo, a elaboração vocal de cada interpretação.
Com só dois discos editados, o artista já dá o ar de estar em plena evolução. "Fight for Your Mind" (95) é a exacerbação de "Welcome to the Cruel World" (94).
Harper sedimenta-se inovador que presta tributo a nomes díspares como John Lee Hooker, Marvin Gaye, Smokey Robinson, Jimi Hendrix, Marley, Gil Scott-Heron, Prince -nos 90, Neneh Cherry, Lenny Kravitz, Fugees.
Talvez de Gaye guarde maior proximidade, modulando dele estilo vocal, poder rítmico e tom de preocupação política -"Excuse Me Mr." pode ser tomado como atualização do hino "What's Going On" (71), de Gaye.
Harper exacerba às vezes a preocupação religiosa, às vezes messiânica -"Grown on Down" e "Power of Gospel" são provas.
O tempo é de complexidade, entretanto, e sua religiosidade guarda espaço para a multiplicidade de discursos, como em "Mama's Got a Girlfriend Now", do primeiro CD, em que fala com simpatia da nova namorada de sua mãe.
(PAS)

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