São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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SERIEDADE NO RODÍZIO

Durante certos dias de agosto de 96 foi proibida a circulação de parte dos automóveis na Grande São Paulo. Sob ameaça de multa, os motoristas foram obrigados a se revezar nas ruas. Ao longo daquele mês, a polêmica da implantação do rodízio de carros foi cedendo diante do desafogo do trânsito neurotizante.
A experiência deveria servir para tornar o novo debate sobre o rodízio mais rigoroso, além de permitir a revisão de aspectos problemáticos da iniciativa. Em 96, por exemplo, o tráfego de caminhões não foi proibido.
No entanto, a discussão do assunto recomeça enredada em pés de cana. O governador Mário Covas quer liberar os carros a álcool do rodízio. A idéia veio dos produtores de álcool. Foi acolhida pelo governador com o argumento de que estimularia o uso dos veículos que utilizam esse combustível, que poluiria menos.
Em relação à qualidade do ar, técnicos do próprio governo observam que carros a álcool antigos poluem mais que os novos modelos movidos a gasolina. Seria necessário um cálculo complicado para comparar o efeito poluidor dos veículos recém-saídos da fábrica com o da envelhecida frota de movidos a álcool.
Ademais, há o problema sério de como distinguir o combustível dos carros em circulação, como o próprio Covas admite. A criação de selos para diferenciar os veículos criaria custos e burocracia, o que, como de costume, pode abrir caminho para corrupção. De resto, é preciso refletir se a liberação do rodízio estimula de fato o uso de carros à álcool -e se esse apoio é necessário.
A proibição de dirigir seu automóvel atiçou ânimos e desvirtuou um pouco o debate sobre o objetivo principal do rodízio -combater a poluição. A idéia de abrir exceções de benefício duvidoso pode desviar ainda mais a discussão pública sobre as medidas antipoluição. A idéia pouco feliz de Covas, além do mais, não ajuda a fazer com que a população encare com mais seriedade as políticas ambientais para o trânsito.

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