São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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CPI já sabe quem recebeu dinheiro

SILVANA QUAGLIO

SILVANA QUAGLIO; FRANCISCO CÂMPERA
DA REPORTAGEM LOCAL

Polícia Federal vai procurar empresas que ficaram com R$ 2 bilhões do esquema

A CPI dos Precatórios já tem os nomes dos principais receptores dos mais de R$ 2 bilhões "lavados" por meio da agência do Beron (Banco do Estado de Rondônia) em São Paulo. O próximo passo caberá à Polícia Federal, que deve iniciar em breve a investigação.
Relatório produzido por auditores do Beron no segundo semestre do ano passado mostra que apenas oito empresas "lavaram" R$ 1,15 milhão com origem suspeita. Essas empresas foram reunidas em três grupos pelos auditores.
Segundo o ex-presidente do Beron Francisco José Mendonça Souza, este dinheiro pode ter qualquer origem. Souza, funcionário aposentado do Banco Central, e presidiu o Beron até janeiro. O Beron está sob intervenção do BC.
Três auditores do Beron rastrearam milhares de cheques que passaram pela agência do banco em São Paulo. Quase metade do dinheiro foi para agências bancárias em Foz do Iguaçu. O restante passou por Campo Grande (MS), Cascavel (PR) e Ponta Porã (MS), conhecidas portas para dinheiro enviado ilegalmente para o exterior.
Só pela conta de uma empresa, a Sabra Factoring Fomento Comercial Ltda., no Beron, passaram R$ 332,19 milhões. Cerca de R$ 122 milhões foram depositados diretamente no Paraguai, no Corfan Banco SA Inversion y Fomento.
A Sabra é uma empresa de fachada de propriedade de Manoel Moreira Neto. Ele aparece como dono também de outras duas empresas: CMA Plastics Ind. Com. de Plásticos Ltda. e CMA Mercantil.
Procurado ontem pela Folha, Moreira Neto não foi localizado até o fechamento desta edição. Segundo o relatório, Moreira Neto é procurador de outra empresa usada para "lavar" dinheiro: a São Jerônimo Alimentos Ltda. Pelas empresas de Moreira Neto passaram cerca de R$ 750 milhões.
A São Jerônimo tem uma particularidade: ela teria recebido depósitos e emitido cheques depois de ter sido dissolvida. Segundo o relatório do Beron, a São Jerônimo foi aberta em julho de 92 e fechada em março de 93. A conta foi movimentada de fevereiro a julho de 96.
As distribuidoras Negocial e Split e a corretora Perfil também eram grandes correntistas do Beron. As três são apontadas pela CPI como o centro das negociações irregulares com títulos.
Pela conta da Perfil circularam R$ 31.800.239,55. Os cheques de maior valor foram depositados nas contas de empresas de Moreira Neto. O mesmo ocorre com cheques do grupo Split.
Além da distribuidora, a Split Corretora de Mercadorias também tinha conta no Beron e depositou mais de R$ 30 milhões para empresas de Moreira Neto. A Fervaz, empresa de fachada, é a segunda maior "laranja" do Beron. Por sua conta passaram mais de R$ 222 milhões. Esta empresa fazia investimentos com a Negocial.

Colaborou Francisco Câmpera

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