São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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Galbraith põe em xeque monetarismo

OSCAR PILAGALLO
EDITOR DE DINHEIRO

Em épocas como a nossa, em que já quase ninguém questiona o fato de economias estarem sendo manipuladas por tecnocratas de bancos centrais, é bom prestar atenção em quem está na contramão.
É o caso de John Kenneth Galbraith. Diz ele: "Administrar a moeda é uma tarefa que atrai um nível de talento muito baixo, protegido em sua profissão altamente imperfeita pelo mistério que se acredita envolver a economia em geral e a moeda em particular".
Por ter dedicado boa parte de seus 88 anos e 30 livros à tentativa de esclarecer esse suposto mistério, Galbraith talvez seja um dos mais populares economistas do mundo.
Sua opinião sobre os administradores do dinheiro está no livro "Moeda: de Onde Veio, para Onde Foi", cuja edição atualizada está sendo lançada no Brasil.
Galbraith definitivamente despreza o exercício da autoridade monetária. Para ele, o que esses tecnocratas precisam para se dar bem é de "um caráter conformista, um bom alfaiate e a capacidade de articular o clichê financeiro".
Embora a versão original tenha sido escrita 20 anos atrás, Galbraith atualizou o texto e chegou até o início desta década.
A leitura é particularmente oportuna num momento em que Alan Greenspan, presidente do banco central norte-americano, prepara um aumento dos juros, apesar de reconhecer que a inflação está totalmente sob controle.
Gustavo Loyola, presidente do Banco Central, admitiu nesta semana que, em decorrência do que viesse a acontecer nos EUA, a política monetária brasileira poderia ser alterada. Ou seja, os juros mudariam a trajetória declinante.
Não cabe aqui discutir se no varejo estão certos ou errados. Até porque a mexida nos juros americanos deve ser pequena o suficiente para manter tudo como está.
Mas suponha que eles estejam errados e que o erro seja grave. O que aconteceria? Suas carreiras estariam comprometidas? Ao contrário, a se julgar pela lógica de Galbraith. "Na administração da moeda, como na economia em geral, o fracasso geralmente é uma estratégia pessoal mais compensadora do que o sucesso", diz.
É uma provocação, mas se olharmos em volta não deixaremos de dar alguma razão a Galbraith. Assessor do presidente Kennedy nos anos 60, ele construiu sua carreira ao largo da administração pública e provavelmente gostaria de ser visto como exceção à regra.
A crítica de Galbraith aos administradores da moeda revela sua objeção à própria política monetária como instrumento para regular o nível da atividade econômica.
Para ele, esse fim deveria ser atingido com a política fiscal, que é mais direta e eficiente.
Galbraith reconhece que o Legislativo tem dificuldade em elevar a carga fiscal e sugere que a decisão seja delegada ao Executivo.
Ele se antecipa à crítica e diz que a proposta deve ser encarada com relutância pelos que se preocupam com os excessos do Poder Executivo. A alternativa seria limitar a margem de manobra do Executivo para que a política fiscal fosse neutra do ponto de vista de transferência de renda entre grupos.

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