São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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Condições plenas

ARNALDO MADEIRA

Sim, a previsão é correta. Na verdade, a economia já ingressou em 1997 crescendo a essa taxa, se medirmos o crescimento "na ponta". Em relação ao último trimestre de 1995, o PIB cresceu 5% no último trimestre de 1996.
Essa retomada do crescimento é impulsionada pela emergência de um enorme mercado consumidor.
Nos últimos três anos, o PIB "per capita" cresceu 9,3%, e, além disso, houve uma melhora substancial na renda dos mais pobres. Os dados da PNAD de 95 deram conta da importante redistribuição de renda engendrada pelo Real.
De 1993 a 1995, o crescimento do rendimento real médio dos 10% mais ricos foi da ordem de 25%, enquanto o crescimento do rendimento dos 10% mais pobres mais do que dobrou de valor.
Mesmo que esse fator não seja repetido com a mesma magnitude inicial, a redistribuição, por si só, já sustenta escalas mais elevadas de consumo, o que, sabemos, é de suma importância para as decisões de investimento.
Em segundo lugar, também dando impulso a esse mercado consumidor potencial está o papel que o crédito cumpre em uma economia estável. O consumidor se sente mais seguro para se endividar, dado que o horizonte é claro, assim como os bancos voltam-se para a sua função original, que é emprestar. Os bancos, ao emprestar e alongar prazos, abarcam um número maior de consumidores, antes alijados do mercado. E ainda há muita demanda ávida por crédito.
Essa maturação do mercado vem acompanhada de mudança no patamar de investimentos da economia brasileira. Com o Plano Real, a taxa de investimento elevou-se de 14% para 16% do PIB. Os investimentos diretos estrangeiros, que foram de US$ 1,9 bi em 1994, US$ 3 bi em 1995 e US$ 9,2 bi em 1996, devem chegar a nada menos que US$ 15 bi em 1997.
Além disso, há sinais fortes de que está em curso uma alteração na "qualidade" dos investimentos. Dados recentes mostram que estamos transitando de um ciclo de investimentos de menor valor, concentrados na racionalização do processo produtivo, para um ciclo de investimentos de maior valor, com instalação de novas plantas, ampliação de unidades já existentes e introdução de novos produtos.
Portanto, a nova escala do mercado consumidor parece ser o principal incentivo ao investimento, assim como a maior crença na estabilidade de regras e no equilíbrio macroeconômico.
Há, então, condições plenas para crescer 5% em 1997, crescimento esse alavancado pelo consumo e pelo investimento.
Mas a questão mais relevante, na verdade, não é se é possível crescer neste ano. O mais importante é a busca das condições para que o crescimento se dê a taxas de 5%, 6% por um longo período de tempo. E a solução passa necessariamente pela aprovação das reformas constitucionais da administração pública e da Previdência, pois que elas são indispensáveis para reduzir o déficit público, aumentar a poupança interna, aumentar o investimento e, assim, gerar mais produção e mais empregos.

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