São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 1997
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Imperador foi o símbolo de época áurea

SILVIO CIOFFI
DO ENVIADO ESPECIAL A VIENA

Quando o imperador Francisco José 1º morreu, em 1916, depois de um reinado de 68 anos, seu cortejo partiu do castelo de Hofburg, então residência de inverno da corte, atravessou o Ring e seguiu até a catedral de Santo Estevão, igreja gótica de 1147 cuja torre, de 1433, pode ser vista de toda a cidade.
Menina dos olhos do imperador, o Ring, ou anel, é uma avenida circular que foi aberta ao público em 1879, no lugar onde Viena teve suas muralhas.
Nesse mesmo ano em que o Ring foi inaugurado, o casamento de Francisco José 1º com a imperatriz Sissi -cujo nome era Elizabeth- completou 25 anos.
Tanto o Ring, construído por renomados arquitetos europeus, como a história da imperatriz bávara Sissi, ainda hoje são símbolos de uma era de ouro de Viena.
Na época, a capital austríaca mudou sua face e, ao contrário do que acontecia em Paris e Roma, o renascer arquitetônico se deu primordialmente na região central.
Tomando o lugar dos muros que, desde o século 12, fortificavam a cidade, o Ring abraçou o primeiro dos 23 bairros que formam Viena.
Ainda em nossos dias, essa região em torno da avenida Graben concentra muitos dos monumentos, cafés tradicionais e comércio sofisticado da cidade.
Dada a paixão dos austríacos pela música lírica, a Ópera foi o primeiro edifício do Ring a ser concluído, em 1869.
Depois vieram os edifícios gêmeos que abrigam os museu de História Natural e de Belas Artes, divididos pela Maria-Theresien-Platz.
Também ao longo do Ring ficam a universidade, prédio neo-renascentista de 1884, o Parlamento, que lembra uma obra grega e foi edificado em 1873-83, a Bolsa, prédio da mesma época reconstruído depois de um incêndio há 40 anos, o Palácio da Justiça e tantos outros.
O próprio castelo de Hofburg, que agora serve de residência oficial para o presidente austríaco, tem dez edifícios em estilos diversos e um acervo de tirar o fôlego.
Em todo o Ring os estilos variam do barroco ao neoclássico, do renascentista ao neogótico, numa sinfonia típica do século 19 -e que ainda impressiona o visitante.
Mas, apesar do ecletismo, o conjunto de obras arquitetônicas ao longo do Ring tem grande harmonia e é representativo do império Habsburgo -já que a história passada da Áustria é, quase sem exagero, a história dessa dinastia.
A Áustria até Francisco José 1º
Os Habsburgo ocuparam o trono austríaco do século 13 até o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-18), e sua dinastia ficou conhecida como casa d'Áustria já no século 16.
No começo do século 19, Napoleão forçou o imperador Francisco 1º, avô de Francisco José 1º, a abandonar seu título de imperador do Sacro Império pelo de Francisco 1º, imperador da Áustria.
Nascido no castelo de Schõnbrunn em 1830, Francisco José 1º casou-se aos 23 anos com Elizabeth, a Sissi, que tinha 16 anos.
Criada entre Munique e o interior da Baviera, Sissi foi idolatrada pelo marido e pelos súditos, mas seu casamento foi infeliz.
Amante das artes e dos animais, a bela imperatriz tinha temperamento difícil e era pouco inclinada às cerimônias e compromissos da refinada corte de Viena.
Alguns anos depois, em 1867, os imperadores viveram um momento importante da história européia, quando o Estado imperial austríaco, que existia desde 1804 como um Estado unitário, foi transformado na dupla monarquia austro-húngara, numa cerimônia que transformou Francisco José 1º e Sissi em reis da Hungria.
No ano de 1889 uma tragédia mudou os rumos do império Habsburgo. O príncipe Rodolfo, filho dos imperadores, cometeu suicídio ao lado da baronesa Maria Vetsera.
O casal imperial mergulhou em profunda depressão. A imperatriz passou a viajar continuamente até que, em 1898, foi assassinada por Luigi Lucheni, um anarquista que enfiou uma lima no seu peito.
Francisco José 1º amargou os últimos anos de seu longo reinado como um refém de suas obrigações imperiais. O povo, que compreendia sua dor, e o Exército, que lhe rendia devoção ilimitada, viram o velho imperador retirar-se para o castelo de Schõnbrunn e ser sucedido pelo arquiduque Carlos, que foi o último regente Habsburgo da Áustria.
Francisco José 1º morreu no castelo em que nasceu. Seu corpo foi exposto por nove dias na capela do castelo de Hofburg e sepultado ao lado dos túmulos da imperatriz Sissi e de Rodolfo.
A derrota em 1918, ao fim da Primeira Guerra Mundial, trouxe também o fim do Império Austro-Húngaro, que se decompôs em Áustria, Hungria, Tchecoslováquia e Iugoslávia.

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