São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Queimando etapas na infância

Em geral, o desenvolvimento da vaidade passa por vários estágios durante a infância e a adolescência. Até os 5 anos, a criança se identifica com os modelos que ela tem em casa. Se for uma menina, ela vai imitar a mãe para "aprender a ser mulher". É nessa fase que as crianças brincam com os vestidos da mãe, passam a maquiagem dela e tentam copiar seus gestos.
Por volta dos 8 anos, começa a vida em grupo. É o período da consolidação da identidade sexual, quando a criança começa a descobrir o que é pertencer a um sexo. As meninas ficam de um lado, os meninos do outro.
Surge a curiosidade sexual, como meninos tentando ver a calcinha das meninas e as trocas de tapas e beliscões.
Nesse momento, a criança começa a cuidar do corpo e a se interessar pelo atributos externos do sexo oposto, mas sempre com curiosidade e não com desejo.
A vaidade deixa de ser "cópia" da mãe para ser a vontade de cuidar-se e parecer bonita para os outros.
Na adolescência, ocorre uma separação maior da família: o que importa agora são os amigos. A aparência ganha muita importância. Há uma busca de atingir modelos idealizados pela "turma", fascínio por algumas grifes e por ídolos da TV e do cinema.
A vaidade, nessa fase, é inversamente proporcional à segurança. Qualquer imperfeição, comparada ao ideal do adolescente, preocupa e deixa-o inseguro.
Feijoada para bebês
Para a psicóloga Maíra Tanis, está ocorrendo um "aceleramento dessas fases". Segundo ela, "as crianças estão incorporando temáticas próprias dos adultos".
"O problema é que ninguém pula etapas, apenas as vivencia mais rapidamente e atinge a fase seguinte menos preparado. Uma criança pode parecer uma minimulher, mas não é. No futuro, pode se tornar uma mulher imatura e dependente", diz Maíra.
A psicóloga afirma que, mesmo quando há uma erotização da criança -meninas fazendo a dança da garrafa, por exemplo-, não há uma ligação com o sexo genital, como nos adultos. "É como oferecer feijoada a um bebê", diz.
Ela sugere que os pais não tenham medo de frustrar os filhos. "São eles que devem decidir. As crianças são aprendizes."
Silvia Figueiredo Gouvea, diretora da escola Lourenço Castanho, na Vila Nova Conceição, também sente que as crianças estão cada vez mais precoces. "Os pais não podem embarcar nesse processo, sem tomar alguns cuidados. Uma criança, que tem tudo aos 12 anos, o que vai desejar aos 16? A vida começa a ficar monótona", diz.

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