São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997
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Formação precária nas faculdades de medicina

REGINA R. PARIZI CARVALHO

A anunciada abertura de mais uma faculdade de medicina particular, desta vez em Ribeirão Preto (SP), caracteriza, no mínimo, um descompasso entre os dados da realidade e a atual política de formação universitária no país.
O Brasil já possui 84 faculdades de medicina, das quais 20 no Estado de São Paulo. Do total, 30% são públicas. Isso representa cerca de 1.860 vagas oferecidas anualmente no Estado e 8.130 no país.
Há cerca de 220 mil médicos registrados nos Conselhos Profissionais, dos quais 60% estão na região Sudeste.
Mais de 70 mil encontram-se no Estado de São Paulo. Este já possui, portanto, proporção adequada do número de profissionais por habitantes, segundo critérios da Organização Mundial de Saúde, que preconiza 1 para cada 1.000 habitantes.
No Estado de São Paulo, essa relação dobra, pois existe 1 médico para cerca de 500 habitantes.
Estudo recente encaminhado aos ministérios da Saúde e da Educação, por uma comissão criada por portaria ministerial, evidencia a não-necessidade social dos 13 novos pedidos de abertura de cursos de medicina que se encontram no MEC, sendo um deles o acima mencionado.
Outro agravante: o número de médicos cresce na proporção de 3,73% ao ano, enquanto a população em 1,85%, segundo dados do IBGE.
A precária formação desses profissionais, em decorrência dos insuficientes recursos materiais e de corpo docente, embora pagando mensalidades elevadíssimas, é outro problema a ser solucionado.
Apesar do desempenho abaixo do aceitável dos alunos de instituições privadas verificado no polêmico "provão" patrocinado pelo governo federal, este mesmo governo tem autorizado as universidades privadas a criarem cursos de seu interesse.
Não bastasse isso, propõe programas de auxílio para melhorar a qualidade das faculdades particulares, enquanto as públicas sofreram um verdadeiro desmonte com o Programa de Demissão Voluntária e os aviltantes salários.
No caso dos médicos, além da questão qualitativa, com repercussões incomensuráveis sobre a vida das pessoas, temos a quantitativa, pois o excessivo número de profissionais não barateia a assistência.
Ao contrário, tem-se verificado a criação de demandas desnecessárias em procedimentos e instalações, para haver acomodações no mercado de trabalho, que só elevam os custos na área da saúde.
Sugerimos, portanto, que se faça o debate com a sociedade para podermos desenvolver uma política de recursos humanos visando sobretudo atender as necessidades de nossa população.

Regina Ribeiro Parizi Carvalho, 42, médica sanitarista, é vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) e conselheira do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CRM-SP).

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