São Paulo, terça-feira, 1 de abril de 1997 |
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A velha modernidade
CARLOS HEITOR CONY Rio de Janeiro - Em tempos de neoliberalismo explícito inaugurado pelo ex-sociólogo esquerdista Fernando Henrique Cardoso, teremos em breve o neocolonialismo de um país que poderá ser conhecido, pelas gerações futuras, como o Ex-Brasil.Lembro o horror, o frio na espinha que todos sentíamos quando nos referíamos à Guatemala como o país da United Fruit Co. Ignorávamos -e o ex-sociólogo em questão era um dos mais radicais nessa ignorância- que, dos anos 20 em diante a Guatemala era uma desbravadora, uma pioneira da globalização. Numa época em que ninguém falava em neoliberalismo, a Guatemala já era (sem saber) neoliberal, estava inserida na modernidade. Com o atraso de algumas décadas, procuramos agora recuperar o tempo perdido. Com a privatização da Vale do Rio Doce ficaremos exatamente no mesmo estágio da Guatemala no início do século. Só que na Guatemala as bananeiras podem ser substituídas por outras bananeiras, daí que a produção de bananas não acaba. Com os minérios é um pouco diferente. As jazidas são neobobas, não aprenderam o exemplo das bananeiras, quando acabam, acabam. Fica um buraco, igual a uma cratera lunar. Todos sabíamos que os quatemaltecos se embananariam, literalmente, se tivessem de comercializar as bananas que a generosa terra quatemalteca produz. Daí a sabedoria de aceitar os capitais redentores e a tecnologia de empresas internacionais para melhor explorar (no bom sentido) no mercado mundial as excelentes bananas que as fecundas bananeiras de lá fabricavam. Há também exemplos pioneiros na África e na Ásia desse pioneirismo neoliberal, onde companhias belgas, francesas, portuguesas, holandesas e inglesas solidariamente fizeram pingues investimentos e transmitiram know-how de graça aos nativos. Daí que vender a Vale não chega a ser uma exigência da modernidade. Mais uma vez chegamos tarde à história. Texto Anterior: Grandes bancos em um dia Próximo Texto: Lucros privados... Índice |
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