São Paulo, quinta-feira, 3 de abril de 1997
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'PM nenhum acreditaria na história'

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O vendedor Antônio Carlos Dias disse ontem após seu depoimento na CPI que, se a tortura sofrida por ele e seus dois colegas e a morte de um dos três não tivesse sido filmada, "delegado e policial militar nenhum acreditaria na história".
Dias afirmou que ele e os amigos Jefferson Sanches Caputi e Mário José Josino estavam passando pela rua Naval, como de costume, pois a rua serve de desvio para os motoristas locais que querem escapar das vias esburacadas do bairro.
"Fomos abordados por um PM da blitz. Mostramos os documentos e carteiras funcionais para comprovarmos que éramos trabalhadores, o que nada adiantou."
"O PM conhecido como Rambo (Otávio Lourenço Gambra) começou a atacar o Jefferson. Não contente, outro PM, o Silva Júnior (Nelson Soares da Silva Jr.), foi até o carro de polícia, pegou um cassetete e começou a bater na sola do pé do Jefferson", disse Dias.
Segundo ele, o soldado Silva Jr. repetia, enquanto batia nos pés do amigo, que "aqui é bom de bater porque não deixa hematomas".
Os policiais teriam dito ao vendedor que Jefferson estava apanhando porque ele "era muito folgado". "Mas não tínhamos feito nada que os desacatasse."
O assistente de departamento pessoal Jefferson Sanches Caputi, 29, disse que, depois de apanhar no capô do carro, perguntou se podia calçar o tênis tirado pelos PM. "Quando estava colocando o tênis recebi a cassetada nas costas, foi a que mais doeu". Depois disso, os três entraram no Gol preto de Jefferson, ainda apanhando.
"Antes de ir embora, eu dei marcha ré e cheguei a dizer aos PMs que havia anotado o número do carro de polícia, coisa que eu nunca deveria ter dito."
"Percebi que o Mário havia sido atingido 200 metros depois de ouvir três disparos. Fomos direto ao hospital", disse Caputi. "Perguntei ao Mário se ele estava bem. Ele respondeu que havia sido atingido. Ele morreu nos meus braços", disse Dias, chorando.
As vítimas contaram que suas mulheres, que estavam em outro carro e faziam o mesmo percurso no dia da ação policial, retornaram ao local da blitz por causa da demora dos três. "Quando perguntaram aos policiais se tinham visto um Gol preto, o Rambo (Otávio Gambra) disse era melhor ela (a mulher de Jefferson) ir para casa e preparar uma salmoura porque o seu marido estava muito machucado", afirmou Dias.
(AL)

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