São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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Produtor diz que terra invadida é produtiva

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Defensor da reforma agrária "dentro da lei", o produtor Marcelo Malzone, 43, está com suas terras de 4.090 hectares, a Fazenda Santa Rosa, no município de Itaberaí, a 100 km de Goiânia (GO) ocupadas pelos sem-terra desde 30 de novembro passado.
Proprietário rural desde 1983, Malzone diz que a fazenda nunca deixou de ser produtiva.
Comercializou 5.000 toneladas de alimentos em 1995, teve 11.800 bois em confinamento e atualmente, devido às invasões, de acordo com Malzone, a fazenda é utilizada na atividade de arrendamento de pastagens.
Desde 23 de março do ano passado, a fazenda já sofreu quatro ocupações. Malzone diz que obteve a reintegração da posse da Justiça de Goiás. Ele acusa a o Ministério Público e a Polícia Militar de Goiás de omissão no cumprimento da ordem judicial.
Malzone afirma que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) está sendo usado como uma massa de manobra de políticas e da própria Pastoral da Terra.
"Atualmente, em Goiás, o MST só está invadindo fazendas realmente produtivas e à beira do asfalto", diz.
Para Malzone, o MST é "absolutamente manipulado". Ele desafia: "Se uma amostra de cem sem-terra fosse submetida a uma banca examinadora de produtores rurais, a maioria não passaria".
Desapropriação
O produtor nega que haja um processo de desapropriação da Fazenda Rosa. "O Incra está mentindo aos acampados, está mentindo à sociedade", acusa.
Segundo Malzone, a invasão da Fazenda Santa Rosa está se tornando o fato político mais importante do Estado de Goiás.
"O governo estadual só tem uma atitude a tomar: fazer cumprir a lei, porque as lideranças estaduais do MST estão incitando os acampados à resistência, falam que não obedecerão a ordem judicial. Considero isso um fato da mais alta gravidade, porque é a mesma coisa que rasgar a Constituição."
Apesar de sua disputa com o MST, Malzone se diz a favor da reforma agrária, mas discorda da maneira que ela está sendo feita pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
"O que está havendo no Brasil não é reforma agrária, é conflito agrário. Não é redistribuição de terra, é redistribuição de miséria agrária", afirma.
Malzone diz que considera grave o fato de que o governo federal diz que faz, mas não faz a reforma agrária.
"Isso acaba deixando os sem-terra de fato, não os oportunistas -a grande maioria são oportunistas-, numa situação muito ruim e os produtores de fato também numa posição muito ruim. Com coragem, estímulo, ou segurança alguém vai investir na sua fazenda hoje, fazer um financiamento de médio prazo, sabendo que suas terras podem ser invadidas da noite para o dia?"

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