São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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As guerras do automóvel (2)

HELCIO EMERICH

No livro "Car Wars", que começamos a comentar semana passada nesta coluna, o autor, jornalista norte-americano Jonathan Mantle, dedica todo um capítulo à General Motors. Nascida em 1908, a GM ganhou impulso inicial no período de 1914-18, durante a Primeira Guerra Mundial.
O fim do conflito, porém, jogou os Estados Unidos na recessão e a empresa esteve à beira da insolvência. Foi quando surgiu a figura de Alfred P. Sloan Jr., um homem austero, que não fumava, não bebia e não apreciava negros, judeus e principalmente sindicatos (chegou a montar uma força policial privada, recrutada na máfia de Detroit, para dispersar greves e protestos dos trabalhadores da GM).
Sloan recuperou a empresa e montou as bases daquela que viria a ser a maior indústria automobilística do planeta, identificada por ele como "símbolo da saúde e da riqueza da América". Mas seus métodos para conquistar mercados e superar os concorrentes passavam ao largo de quaisquer fronteiras éticas, como mostram alguns "cases" cabeludos relatados por Mantle em seu livro.
Em 1938, Los Angeles era uma das cidades com ar mais limpo da costa do Pacífico dos Estados Unidos. Tinha uma das maiores redes de trens elétricos do mundo para o transporte urbano de passageiros. Mil composições dos "trens vermelhos" da Pacific Electric chegavam ou partiam diariamente do centro da cidade. Por iniciativa de Alfred Sloan Jr., a GM juntou-se à Firestone e à Standard Oil da Califórnia e as três empresas assumiram o controle da companhia de trânsito de Los Angeles.
Em seguida começaram o processo de desativação do seu sistema de transporte ferroviário. A cidade passou a crescer à margem das rodovias e não das estradas de ferro, como havia sido planejada. O chefão da GM repetiu a manobra em parceria com outras companhias de petróleo em várias cidades norte-americanas, obrigando seus habitantes a se tornarem cada vez mais dependentes do automóvel.
O autor de "Car Wars" tem mais histórias tenebrosas para contar sobre o lado cinza da atuação da GM ao longo do tempo. Em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, enquanto as fábricas americanas da empresa forneciam peças e componentes para a aviação militar dos Estados Unidos, uma de suas subsidiárias na Alemanha produzia motores para os Messerschmmit 262, os primeiros aviões bimotores a jato do mundo, usados pela Luftwaffe, a força aérea nazista, nos combates contra a própria aviação norte-americana.
Na mesma época, a fábrica da Opel, em Rüsselshseim, outra subsidiária alemã da GM, fornecia 50% dos componentes dos sistemas de propulsão dos aviões Junker 88, os bombardeiros que Hitler utilizou em "raids de massa" na Europa, inclusive sobre populações civis.
Com o fim da guerra e como os ataques aéreos norte-americanos haviam danificado as fábricas da GM na Alemanha, a empresa reinvidicou e conseguiu do governo dos Estados Unidos uma isenção de impostos da ordem de US$ 33 milhões, a título de indenização pelos estragos que os aviões norte-americanos causaram às suas instalações naquele país. Semana que vem tem mais "Car Wars".

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