São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Conheça a defesa dos suspeitos

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

É típico, nas histórias policiais, que os investigadores quebrem a cara ao apontar culpados a partir das aparências. No caso dos precatórios, não há provas definitivas contra nenhum dos suspeitos principais da CPI. Vale a pena conhecer a defesa dos personagens antes de tirar conclusões.
1) Maluf: o ex-prefeito de São Paulo não forjou precatórios e diz, sem ser contestado, que vem pagando essas dívidas em parcelas, mas sem atrasos. Diz que o dinheiro dos títulos pode ter sido usado, em um dia ou outro, para outro tipo de despesa, mas o que interessa é que os precatórios tenham sido pagos.
Sobre o fato de que funcionários da Prefeitura ajudaram a montar precatórios em outros Estados, Maluf diz que o município emprega muita gente e não dá para controlar as atividades de todo mundo -os que agiram errado e foram descobertos estão demitidos hoje.
Quanto ao possível envolvimento de empresas e pessoas que participaram dos negócios com títulos serem também suspeitos de participar dos financiamentos de sua campanha eleitoral, Maluf diz, com razão, que nada foi provado;
2) Pitta: o prefeito e ex-secretário de Finanças da Prefeitura tem argumentos semelhantes aos de Maluf. Ele quem demitiu os funcionários que atuaram nas vendas de títulos em outros Estados, que diz terem traído sua confiança.
Argumenta que os títulos muitas vezes precisaram ser negociados com taxas baixas porque o mercado andou ruim para os papéis municipais, mas no final das contas a gestão da Prefeitura foi aprovada pelo Tribunal de Contas.
Pitta diz ainda que, se houve malandragem depois que os papéis estavam nas mãos de bancos e outras empresas, não é mais responsabilidade de sua administração;
3) Wagner Ramos: admite que errou ao receber uma comissão milionária por serviços prestados a outros Estados e não declarar esses ganhos ao Imposto de Renda. Também reconhece ter tentado esconder isso no início da CPI. Mas diz que sua culpa termina aí: não é o cabeça de esquema nenhum, nem sabe para onde foi o dinheiro ganho por bancos e outras empresas em negócios com títulos;
4) Fábio Nahoum e Ronaldo Ganon: os donos do Vetor argumentam que ofereceram assessoria aos Estados na venda de títulos porque seria um bom negócio para as duas partes. Até aí não há crime.
O Banco Vetor usou os serviços do Wagner Ramos porque era ele quem entendia de precatórios. Se depois compraram os títulos por preços muito baixo e sonegaram impostos, não é culpa do Vetor.
Nahoum e Ganon vão tentar obter uma indenização na Justiça por terem tido seu banco fechado pelo Banco Central: afinal, o Vetor estava em boa situação financeira;
5) Santa Catarina: o chefe da Casa Civil do governo, Eduardo Moreira, disse que os recursos não usados para pagar precatórios "foram usados em obras e ações administrativas nas áreas de saúde, educação e saneamento";
6) Pernambuco: Eduardo Campos, secretário da Fazenda e neto do governador Miguel Arraes, disse que vendeu os títulos porque o Estado estava quebrado. "Foi um momento de extremo desespero";
7) Alagoas: o governador Divaldo Suruagy diz que o BC e o Senado, os responsáveis pelo julgamento, aprovaram seu pedido de venda de títulos.

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