São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Bennett vem cantar e pintar no Brasil

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O cantor norte-americano Tony Bennett, 70, desembarca em São Paulo, na próxima semana, para uma curtíssima temporada. Vai se apresentar apenas no Moinho Santo Antonio (dia 17) e no Metropolitan (dia 18, no Rio).
A sexta visita de Bennet ao país coincide com o lançamento de seu novo álbum: "On Holiday" (Sony), um tributo à diva do jazz Billie Holiday (1915-1959).
O cantor favorito de Frank Sinatra e Duke Ellington tem vivido um período de grande popularidade, depois de ser "descoberto" pela MTV, três anos atrás.
Por telefone, da Califórnia, Bennett falou à Folha de seu novo disco, de seu gosto pela pintura e dos shows que fará no país.
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Folha - Qual é o papel de Billie Holiday em sua formação musical?
Tony Bennett - Nos Estados Unidos, ela foi uma deusa para grandes músicos como Lester Young, Count Basie e Duke Ellington. Grandes jazzistas diziam que queriam tocar seus instrumentos do modo como ela cantava. Ouvir as gravações de Billie é o mesmo que ler um livro sobre sua vida. Uma grande influência para todos.
Folha - Foi difícil selecionar as 19 canções para o disco?
Bennett - O problema não é tanto escolher as canções, mas sim conseguir interpretá-las de outro modo. Ninguém cantava com mais sentimento, com mais coração, com mais honestidade do que Billie. Esse é o grande desafio. Tive que usar o máximo de sinceridade em minhas interpretações, para poder cantar essas canções sem abandonar meu próprio estilo.
Folha - Tem planos de gravar outros tributos?
Bennett - Sim. Pretendo gravar um disco dedicado a Duke Ellington em 1999, o ano em que ele completaria 100 anos. Acho que esse será o último tributo. Antes, em 98, quero fazer um disco voltado para crianças. Esse projeto ainda não está pronto, mas sem ser exatamente didático vou tentar mostrar algumas coisas a elas.
Folha - A exemplo de seu CD dedicado a Frank Sinatra, há uma pintura sua na capa de "On Holiday". Pinta com frequência?
Bennett - Sim, todos os dias. Hoje posso dizer que tenho outra ocupação (risos). Aliás, meu livro "What My Heart Has Seen" (O que Meu Coração Tem Visto) inclui umas quatro ou cinco paisagens do Rio de Janeiro. É um lugar maravilhoso para se pintar. Não vejo a hora de chegar.
Folha - O que pretende cantar nos shows em São Paulo e Rio?
Bennett - Além de uma parte do show com as canções de Billie Holiday, também vou cantar algumas de Duke Ellington e outras de Fred Astaire. Em qualquer lugar do mundo que eu cante, seja em Portugal, na Suécia ou na Malásia, não importa a língua, as pessoas sempre conhecem as canções de Fred Astaire. Vou acompanhado pelo trio de Ralph Sharon, que toca comigo há 30 anos.
Folha - É difícil conseguir canções inéditas para gravar? Não há mais bons compositores?
Bennett - Nem tanto. Há ótimos compositores, como Cy Coleman, Michel Legrand ou David Frishberg, mas o problema é que eles são pouco tocados nas rádios. Hoje, as rádios só tocam música pensando em grandes vendas. Isso é muito injusto.
Folha - O que mudou em sua carreira após ser "descoberto" pela MTV? Seu público rejuvenesceu?
Bennett - Tem sido algo incrível. Nos últimos quatro anos já ganhei cinco prêmios Grammy. Os jovens tem me apoiado muito e para alguém com 70 anos, como eu, isso é uma verdadeira fonte de inspiração. É maravilhoso.

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