São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Imagens e visões do Brasil

MAURICIO STYCER

São Paulo - Há pelo menos três formas de encarar a repercussão internacional alcançada pelas imagens da violência policial em Diadema.
A maneira mais comum é olhar para o noticiário da CNN, do "The New York Times" e do "Le Monde" e lamentar que, depois de "tantos esforços", o Brasil volte a brilhar no mundo por causa de suas mazelas.
Essa é a visão provinciana do problema. É alimentada pela parte mais ufanista da mídia, que ajudou a difundir a idéia de que, com o fim da inflação, o Brasil entrou para o clube das grandes potências do planeta.
A segunda forma de encarar o problema é a do governo FHC. O Planalto preparou uma nota com orientação política às embaixadas do Brasil no exterior, para ajudá-las a responder às críticas sobre a ação da PM no país.
"Certamente esses fatos não contribuíram para a boa imagem do Brasil, mas, como correspondem à realidade, não nos cabe ocultá-los, mas demonstrar as providências que tomamos para punir os culpados e evitar que eles se repitam outras vezes", disse o porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral.
Essa é a visão de marketing do problema. Afinal, o que pode dizer a nota do governo sobre o que aconteceu com os culpados pelos massacres do Carandiru, Vigário Geral, Corumbiara, Eldorado do Carajás entre outros?
Uma terceira maneira de ver o problema é aceitar que, apesar dos muitos preconceitos de quem olha de fora para cá, a visão do estrangeiro com frequência ajuda o nativo a entender melhor as suas contradições.
Da mesma forma que o país melhorava um pouquinho cada vez que a imprensa internacional noticiava as violações aos direitos civis cometidas durante o regime militar, é possível supor que vamos evoluir agora, quando estrangeiros apontam o dedo para feridas abertas no Brasil de 1997.
Um país onde as violações aos direitos humanos são frequentes e as desigualdades sociais são abissais não pode ser olhado de forma complacente.
Essa pode ser chamada de uma visão otimista do problema.

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