São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Em defesa dos privilégios

VALDO CRUZ

Brasília - O governo Fernando Henrique Cardoso gosta de alardear que a esquerda critica, critica, mas não tem proposta. Em várias ocasiões, essa é uma queixa procedente. O PT adora fazer crítica pela crítica.
Mas nem sempre é assim. A reforma administrativa é um bom exemplo. O PT defende o teto salarial de R$ 10,8 mil no serviço público, medida válida que visa acabar com os salários exorbitantes bancados pelos contribuintes.
O partido de esquerda, por sinal, defendia até a proposta original do governo, de um teto salarial ainda mais rígido -cerca de R$ 8.000.
E o que está acontecendo? O governo cedeu ao corporativismo, que permite a alguns privilegiados receber vencimentos acima do teto de R$ 10,8 mil.
O deputado José Genoino (PT-SP) diz que o seu partido vota a favor do teto salarial e não cobra nada por isso. "Não damos nem despesa de cafezinho ao governo, ao contrário dos aliados de FHC." O petista reclama que, no caso da reforma administrativa, o governo está cedendo ao "corporativismo dos tubarões". E quem está cedendo, lembra Genoino, é o mesmo governo que adora divulgar que luta contra privilégios.
É claro que o PT não vota a favor do teto salarial de graça. Quer algumas mudanças nos critérios de demissão de funcionários públicos. Aceita a demissão por insuficiência de desempenho, mas quer dar ao servidor o direito de se defender. Topa a demissão de servidores sem estabilidade, mas não concorda com discriminações.
Defende ainda a redução dos cargos de confiança. "A Inglaterra tem 30 cargos de confiança. A França, 150. No Brasil, mais de 5.000. Um absurdo", protesta o deputado petista.
Acredito que os pedidos do PT não chegam a comprometer a reforma do governo. Dá, pelo menos, para iniciar uma negociação. Por que então o presidente FHC não deixa as críticas de lado e aceita o apoio da esquerda? São uns 84 votos. O sonho de um novo mandato pode ser a explicação.

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