São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Acácio em ação

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Confesso que não me dou ao respeito de acompanhar os pronunciamentos presidenciais, adivinho mais ou menos o que ele tem a dizer para cada assunto e problema. Contudo, leio atentamente o noticiário referente às reuniões de FHC com o seu ministério.
Lembram aqueles finais do teatro de revista da praça Tiradentes, quando o programa detalhava: "Gran Finale - Toda a Companhia". Aí aparecia todo mundo, inclusive aquelas vedetes coxudas que desciam as escadas iluminadas -a platéia batia palmas e pedia bis.
Evidente que não se pode associar a opulenta Mara Rúbia à austeridade monacal de Marco Maciel, nem a monumental Carmem Verônica à desleixada expressão corporal de Sérgio Motta. "Omnia comparatio claudicat".
Mas o "capocommico" da companhia é mesmo o presidente. Na última reunião, semana passada, ele brilhou mais uma vez no costumeiro papel de Conselheiro Acácio. Lembrou a seus auxiliares que "a reforma agrária não é um problema do ministro Raul Jungmann, é um problema de todo o governo e do país". Até a Tradição, Família e Propriedade, que alugou um avião para jogar panfletos nas cidades por onde passa a marcha dos sem-terra, pensa a mesma coisa, embora tenha a sinceridade de pensar às avessas.
*
Erramos, ou melhor, errei: na crônica do domingo de Páscoa ("O felix culpa"), não soube precisar se o belíssimo hino "Exsultet jam Angelica" era de Santo Ambrósio ou do próprio Santo Tomás.
Nada disso. O hino é mesmo de Santo Agostinho, um cartaginês que muito pecou e foi ensinar retórica em Roma (o que equivale a um baiano, especializado em caruru, tornar-se "chef" no Tour d'Argent).
Depois de alguns séculos de predominância aristotélico-tomista no pensamento ocidental, ele está voltando à tona trazendo a reboque Sócrates e Platão.

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