São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
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Coreógrafo é referência para dança, mas deixa saudade dos tempos áureos

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

À parte a revolução que provocou na história da dança, Maurice Béjart também representou uma forte influência no Brasil, onde seu elenco, o Béjart Ballet Lausanne, está realizando mais uma temporada, no Teatro Municipal de São Paulo.
Desde o final dos anos 60, quando os fabulosos elencos de Béjart começaram a se apresentar no Brasil, o coreógrafo tornou-se referência para uma geração de criadores e espectadores.
Com Béjart, gente que desconhecia dança passou a gostar e se aproximar desse tipo de expressão. Entre os artistas brasileiros, foi absorvida uma maneira "béjartiana" de coreografar, teatralizar e explorar o espaço cênico.
Sendo um contra-senso exigir duas revoluções de um mesmo artista, resta agora situar Béjart dentro de sua importância histórica, sem expectativas de reviver o impacto que ele causava a cada temporada no Brasil.
Mais ainda porque, após meio século de carreira, Béjart teve suas idéias incorporadas por tantos coreógrafos, alguns deles evoluindo para resultados próprios (como a francesa Maguy Marin), que agora fica difícil não ver certas obras como datadas.
É o caso de "Mallarmé 3", que o Béjart Ballet Lausanne incluiu no primeiro programa apresentado em São Paulo, terça e quarta-feira. Quando criou essa coreografia, em 1973, Béjart procurava estabelecer um diálogo gestual com a música de Pierre Boulez.
Clichês
Após "Mallarmé 3", o espetáculo prossegue com o novíssimo "Barroco Bel Canto", uma espécie de "Saudades do Brasil" recém-criado por Béjart.
Com músicas barrocas de diversos compositores, essa coreografia não escapa dos clichês. Despretensiosa, mas descartável, enfoca um personagem e seus dilemas dentro de uma selva onírica, com direito a sons de chuva e pássaros, cores tropicais, seres que sugerem espíritos primitivos das florestas.
Para encerrar, o programa também mostrou "Mandarim Maravilhoso", de 1992, que retoma a teatralidade típica de Béjart, que o tempo se encarregou de tornar convencional.
Em clima de bas-fond, enfoca um gueto onde uma personagem aparentemente feminina estabelece dubiedades. Com mais esse retrato pálido da obra de Béjart, esse primeiro programa deixa apenas saudades dos tempos áureos do coreógrafo.
(AFP)

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