São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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Governo não quer reforma agrária, afirma MST

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O líder nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stédile disse ontem durante um debate na rádio Gaúcha, de Porto Alegre (RS), sobre reforma agrária, que "o governo não pensa em reforma agrária, não quer reforma agrária, não precisa de reforma agrária e tem adotado uma política que vai contra a reforma agrária".
Stédile, 43, participou do debate com o advogado Cândido Prunes, especialista no tema. O líder sem-terra disse que "a agricultura não pesa nada para o governo".
Segundo ele, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse em uma reunião do Mercosul que não se preocupava com a agricultura porque o setor tem peso de apenas 11% no Produto Interno Bruto.
Assentamentos
O líder do MST criticou os assentamentos feitos pelo governo. "Não é reforma agrária, pois não adianta nada apenas distribuir terras e largar os pobres em cima. E é isso que o governo está fazendo".
Stédile afirmou ser "mentirosa" a estatística do governo sobre assentamentos. "O governo fixou uma idéia, por propaganda de marketing político, que ia assentar 60 mil famílias por ano. Baixou a ordem para os caras do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) fecharem a meta. O pessoal do Incra nos Estados faz tudo que é manipulação política para agradar o rei (FHC)".
O líder dos sem-terra disse que a Igreja Católica, com exceção de duas grandes fazendas, não possui terras que poderiam servir para a reforma agrária.
Ele também condenou a idéia de que o Exército poderia destinar áreas para assentar os sem-terra. "O Exército precisa terras para fazer seus treinamentos. O latifúndio é a raiz dos problemas sociais", disse Stédile.
Educação O advogado Cândido Prunes, 35, disse que, se fossem desapropriados 80 milhões de hectares, correspondentes a todos os latifúndios existentes no país, o governo conseguiria, na melhor das hipóteses, assentar apenas 20% dos agricultores sem terra.
O especialista declarou que o MST "tem invadido o ministério errado" em Brasília. Em vez de ocupar o Ministério da Agricultura, o movimento deveria, conforme Prunes, pressionar o Ministério da Educação para exigir ensino para "os excluídos da sociedade", a fim de capacitá-los a trabalhar nas cidades.

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