São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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A maneira de avaliar a Vale

LUÍS NASSIF

A questão do preço da Vale do Rio Doce é da seguinte ordem.
As avaliações de mercado levam em conta o chamado fluxo de caixa descontado, calculado da seguinte maneira:
1) Estima-se de quanto será o lucro anual da companhia.
2) Depois, uma taxa de remuneração do capital. Ou seja, qual a rentabilidade que os investidores irão querer para adquirirem a companhia. Nessa taxa de rentabilidade (chamada de taxa interna de retorno) entra o risco do negócio e o risco do país. Em negócios mais estáveis, o investidor aceita taxas de juros menores; em negócios de maior risco, taxas mais elevadas.
3) A partir daí calcula-se o valor presente da operação, para proporcionar a rentabilidade exigida, por determinado período de tempo.
Vamos a um exemplo em números:
1) O lucro anual estimado da companhia é, por suposição, de US$ 1,2 bilhão.
2) O investidor vai querer uma taxa interna de retorno de 12%.
3) Para obter uma renda de US$ 1,2 bilhão, por 30 anos, a uma taxa de juros de 12%, ele precisaria aplicar US$ 10 bilhões. Em outras palavras, se ele aplicar US$ 10 bilhões a 12% ao ano, terá o rendimento de US$ 1,2 bilhão anuais.
É dessa maneira que é calculado o valor da companhia.
400 anos em 30
Qual a reação dos críticos? Há jazidas de ferro com tempo de vida útil de 400 anos. Então, em vez de calcular o fluxo de apenas 30 anos, vamos esticar o prazo.
Eles estão corretos quanto ao fundo, mas errados quanto à forma, devido aos paradoxos da matemática financeira.
Se esticar o prazo para 35 anos, o valor da companhia aumentará meros 1,49% (de US$ 10 bilhões para US$ 10,15 bilhões); se aumentar para 40 anos, mais 1% (US$ 10,2 bilhões).
A partir daí, o prazo passa a ser indiferente. Cem anos, ou 400 anos, pelo sistema do fluxo de caixa descontado, o valor da companhia não passará dos US$ 10,3 bilhões. Ou seja, o investidor compra um fluxo de caixa de 30 anos, e leva de sobra minas que poderão durar 400 anos. Isso acontece quando as taxas de retorno são muito elevadas.
Por outro lado, o investidor não vai querer alterar a forma de cálculo, porque é a que melhor espelha seu custo de oportunidade (é dessa maneira que ele compara todos os investimentos nos quais entra, para selecionar e definir o preço que está disposto a pagar).
Saída para o impasse
O BNDES já encontrou uma fórmula criativa para tratar das reservas ainda não cubadas. Consiste em ele, BNDES, entrar com investimentos para prospecção e receber royalties dos resultados futuros.
Falta a fórmula criativa para as jazidas até agora descobertas. O caminho que poderá conciliar a maneira como o mercado avalia companhias, e a ressalva feita pelos críticos é, em vez de vender pura e simplesmente a Vale, fazer um contrato de arrendamento por 30 anos.
O investidor paga pelo fluxo de 30 anos, e tem 30 anos para explorar a companhia. Daqui a 30 anos, devolve a concessão e procede-se a nova licitação.

Email: lnassif@uol.com.br

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