São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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Broadway esfria a tragédia do navio

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

A partir do dia 23, a tragédia do Titanic será o tema de um musical da Broadway. "Titanic", que fez algumas pré-estréias neste mês, mexe pouco com a platéia, pecando pela falta de dramaticidade.
O foco principal está nas diferenças sociais entre os passageiros do navio. Os cenários se revezam, mostrando cenas da primeira, da segunda e da terceira classes. Na primeira, predomina a futilidade. Na segunda, o complexo de inferioridade e o desejo de ascensão social. Na terceira, o sonho de fazer fortuna na América.
Mesmo quando o navio está afundando, o tom não muda. Duas cenas são ilustrativas: numa, os passageiros de "segunda categoria" comemoram a oportunidade de pisar no Grande Salão. Na outra, mesmo instantes antes de morrer, um casal discute se não seria um desperdício tomar um gole de champanhe.
No primeiro ato, a ênfase do musical é para a grandiosidade do Titanic, louvado como se fosse um ser sobrenatural. No segundo, para a discussão sobre os responsáveis pelo naufrágio.
Na transferência dos passageiros para os poucos botes salva-vidas, a peça endossa o famoso "mulheres e crianças na frente". O problema é que só há uma criança no elenco.
A direção da peça, porém, não descarta fazer ligeiras modificações durante a temporada, inclusive aumentando o número de crianças no musical.
As despedidas entre os passageiros que vão aos botes e os que têm de ficar no Titanic são frias.
Apesar dos problemas, o musical tem alguns bons momentos, principalmente quando opta pela ironia. Um tripulante que se salvou entre mulheres e crianças defende-se dizendo que não foi ele quem abandonou o navio. O navio que o abandonou.
Boa parte da peça tem como cenário o desenho do navio e da Estátua da Liberdade deitada -o horizonte perdido para os passageiros do Titanic.
Mas, sem dúvida, a melhor imagem é a do final do primeiro ato, quando o Titanic navega em alta velocidade em direção ao iceberg que o celebrizou.

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