São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997 |
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O verdadeiro George Lucas contra-ataca
MURILO GABRIELLI
A verdade é que "Guerra nas Estrelas" envelheceu. "O Império Contra-Ataca", não. Esse fenômeno poderia, em análise superficial, ser creditado à evolução dos efeitos especiais, que tornaria boa parte do que se vê na tela na primeira parte da trilogia em peça de museu. Porém, embora realizada com mais recursos financeiros e materiais, também a segunda parte parece, em 97, tecnologicamente obsoleta. O motivo para o salto de qualidade, reside, portanto, ainda no mesmo local de há 20 anos: em George Lucas -ou melhor, na ausência dele. Lucas concebera a trilogia como uma espécie de concerto galáctico, em três movimentos. No primeiro, apresentam-se o tema e as personagens e chega-se a uma aparente conclusão. No segundo, o contraponto, estabelece-se o drama, cujo desfecho anticlimático prepara a apoteose do terceiro ato, no qual o tema finalmente se resolve. Dono de um currículo de apenas dois filmes -consequentemente ainda sem a força-, Lucas teve de, na primeira parte, assumir produção, direção e roteiro para que não fosse ao longo do percurso desvirtuada sua idéia original. Suas deficiências como cineasta, contudo, são evidentes -e ficam evidentemente expostas na tela. Lucas escreve mal -Harrison Ford e Carrie Fisher adoram relembrar os diálogos mais inacreditáveis de "Guerra nas Estrelas"-, não sabe dirigir atores -pecado capital com um elenco de novatos-, perde o ritmo em muitas sequências. A originalidade do filme de 77 escondia, em parte, esses problemas do público. Mas não de Lucas. Consciente de suas limitações, assumiu daí por diante o papel em que se sentia confortável: o de um redivivo chefão de estúdio. Dono de um faro impressionante para o sucesso, chamou as pessoas mais qualificadas para realizarem "O Império Contra-Ataca". O roteiro é de Lawrence Kasdan, que, além de excepcional escritor, se revelaria um dos grandes cineastas da década seguinte. A batuta coube a Irvin Kershner. Nada genial, mas um bom diretor de estúdio, daqueles que, em priscas eras, receberiam o epíteto de "competente artesão". Harrison Ford mostrou-se uma aposta correta (na qual Lucas vinha investindo desde "Loucuras de Verão") e começava a se converter em estrela carismática. Lucas forjou, então, o primeiro de seus grandes filmes de estúdio, numa era em que não mais havia grandes estúdios. Ele costuma dizer que não tem nada que ver com Hollywood. "O Império Contra-Ataca" é a maior prova de que a resposta que uma vez se lhe deu é perfeita: ele é a personificação de Hollywood. Filme: O Império Contra-Ataca - Edição Especial Produção: EUA, 1980 Direção: Irvin Kershner Com: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, Frank Oz Quando: a partir de hoje nos cines Marabá, Bristol, Iguatemi 1 e circuito Texto Anterior: "A Justiceira" "americanalhiza" Globo Próximo Texto: Cenários têm novo tratamento Índice |
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