São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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Morrem 108 refugiados no Zaire em um dia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Doenças e má nutrição causaram quarta-feira 108 mortes em campos de refugiados do leste do Zaire, relatou ontem a ONU.
A Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) calcula que haja 80 mil ruandeses nos dois acampamentos perto de Kisangani, cidade do leste do Zaire ocupada pela guerrilha há um mês, onde ocorreram as mortes.
Os refugiados se deslocam há meses pela África Central fugindo de conflitos étnicos. Eles são, majoritariamente, de etnia hutu. Deixaram Ruanda por causa da guerra civil contra os tutsis, a etnia rival.
Agora, precisam fugir da guerrilha liderada por Laurent Kabila, que tenta derrubar o governo do Zaire e é formada majoritariamente também por tutsis.
A Acnur e outras organizações humanitárias preparam a repatriação, de avião, de 100 mil refugiados para Ruanda. A operação já foi autorizada por Kabila.
Os funcionários da ONU calculam que o número de anteontem elevou para 172 o total de mortos nos campos nos arredores de Kisangani nos últimos dias.
Equipes de assistência encontraram também 3.000 refugiados na cidade de Ubundu e nos seus arredores, 100 km ao sul de Kisangani. Entre eles, há 96 crianças desacompanhadas. "Eles estão todos em estado muito ruim. A prioridade agora é levá-los para os campos", disse Paul Stromberg, da Acnur em Kisangani.
A ação da guerrilha tutsi em uma região cheia de refugiados hutus criou uma das piores crises humanitárias dos últimos anos. O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado esteve entre Kisangani e Ubundu entre 28 de março e 2 de abril, quando a situação já era crítica.
"Dezenas de milhares de refugiados, fugindo dos rebeldes de Kabila pelos últimos cinco meses, se escondendo no mato, exaustos, famintos e todos querendo voltar para casa, em Ruanda, estão hoje no meio de um novo pesadelo", relata Salgado, considerado o principal fotógrafo documental da atualidade.
A Folha publica nesta página e à página seguinte, com exclusividade no Brasil, fotos realizadas por Salgado na região.
As Nações Unidas ainda não sabem quando vão começar a levar os refugiados de Kisangani de volta para Ruanda -estimam que a operação leve ainda entre sete e dez dias e custe milhões de dólares.
O homem forte desse país, Paul Kagamé, que é da etnia tutsi, afirmou que Ruanda não vai se opor à volta dos hutus, mas não sabe se eles querem voltar -há risco de represálias contra os hutus, acusados de genocídio.
Outra preocupação da ONU também é reparar perdas que camponeses do Zaire tiveram com a passagem dos refugiados. "Estamos falando de coisas pequenas, mas é tudo que eles têm", diz Michele Quintaglie, porta-voz do Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas.

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