São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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PRIVILÉGIO IMORAL

Os parlamentares reclamam da sua imagem desgastada junto à opinião pública. Infelizmente, acabam de perder mais uma boa oportunidade para reverter esse estado de coisas que não apenas os atinge, mas ao próprio Congresso.
É um escândalo o acordo pelo qual deputados da base de apoio do governo pretendem aprovar, no bojo de uma reforma administrativa que a todos os servidores públicos vai impor sacrifícios, uma emenda que lhes assegura privilégios.
Legisladores brasileiros querem situar-se acima da sociedade e do Estado. Pretendem criar uma exceção ao limite de salários e de aposentadorias previsto na reforma administrativa para o funcionário "comum".
Para suavizar o corporativismo, camuflando a pretensão de assumirem a condição de casta, os parlamentares sugerem a inclusão de prefeitos, governadores e do presidente da República no clube de privilegiados.
Há tempo, ainda que muito curto, para evitar essa manobra em que legisladores nada mais fazem que legislar em causa própria. A votação da emenda vergonhosa está prevista para a próxima semana. O repúdio à pretensão é notório.
Aprovar um teto válido para todos os cidadãos do país e uma exceção para si próprios é um absoluto escárnio por parte desses deputados.
Como é possível que à luz do dia, diante de toda a opinião pública, senhores e senhoras que afinal de contas compõem um dos Poderes da República estejam dispostos a tal mesquinharia na busca escancarada de vantagens pessoais?
O despudor dos articuladores dessa inaceitável legislação em causa própria é emblemático no pronunciamento de um dos líderes do governo, o deputado Inocêncio de Oliveira (PFL-PE). Ele simplesmente admitiu que o acordo "vai pegar mal".
A democracia exige um parlamento com credibilidade. É inaceitável que um grupo deputados achincalhem ainda mais as instituições a que deveriam servir.

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