São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ouvir o silêncio

CLÓVIS ROSSI

Munique - Viajar pela Alemanha permite recuperar um direito básico do cidadão, o de não ser perturbado pela poluição sonora urbana, que os paulistanos (e demais brasileiros das grandes cidades e até das não tão grandes) já não sabem mais o que é, se é que alguma vez souberam.
E nem nos damos conta disso, aliás, a não ser quando se sente o choque de ouvir o silêncio.
Em viagens anteriores à Alemanha, nem havia percebido o silêncio, talvez por estar sempre acompanhado de jornalistas, muitos deles brasileiros, duas raças ruidosas por natureza.
Agora, o primeiro choque foi ao chegar, faz quase um mês. Mas dei o devido desconto porque era domingo e era Bonn, uma cidade pachorrenta até nos dias de semana e que só as circunstâncias históricas catapultaram à condição de capital (provisória).
Nem o fato de a interinidade já durar mais de meio século tirou de Bonn o caráter pacato, provinciano.
O que surpreende é ouvir o mesmo silêncio ou quase em Frankfurt, o segundo maior centro financeiro da Europa (após Londres), e em Munique, o maior centro alemão de recepção de turistas.
São cidades pequenas, comparadas com São Paulo, é verdade. Mas Munique (1,3 milhão de habitantes) é do tamanho de Campinas, que nem remotamente é tão silenciosa e tranquila.
Não vale nem sequer lembrar que calçadões ocupam 2,5 km do centro histórico de Munique. Claro que, sem veículos (fora ocasionais bondes), é mais fácil ouvir-se o silêncio.
Mas, em volta, o ruído é incomparavelmente inferior ao de qualquer cidade do mesmo porte no Brasil e na América Latina. Faz silêncio até no feirão típico, o Viktualienmarkt.
Não sei qual é o mistério. Talvez o fato de os alemães usarem muito a bicicleta como meio de transporte. Talvez a extensão da rede de transporte coletivo subterrâneo (metrô e subúrbios).
Mas que é relaxante, lá isso é.

Texto Anterior: MAIS COMPETIÇÃO
Próximo Texto: A visão do governo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.