São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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Detetive mata adolescente em delegacia

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O auxiliar de mecânica Wesley Pereira da Silva, 14, foi morto anteontem com um tiro na cabeça dentro da delegacia de Justinópolis (distrito de Ribeirão das Neves), na região metropolitana de Belo Horizonte (MG).
O detetive Gladstone Ferreira da Silva, 35, acusado do crime, está foragido. Ele responde a processos na Corregedoria de Polícia por tentativa de assassinato, tráfico de drogas e abuso de autoridade. Mesmo assim, continua na ativa.
Segundo a polícia, um comerciante que registrava o furto de um videocassete em sua casa apontou Wesley e seu irmão C.P.S., 16, como suspeitos. Os dois adolescentes estavam em uma sala da delegacia, negando a autoria do furto, quando o detive entrou e os levou para uma outra sala em reforma.
C. disse que Gladstone começou a bater nos dois enquanto perguntava pelo videocassete, até sacar a arma e atirar na cabeça de seu irmão, que morreu no início da noite, no hospital João 23.
"Ele me bateu e bateu no meu irmão. Perguntou se ele (o irmão) conhecia o capeta e disse que o capeta era ele (o detetive). Perguntou se conhecia o fogo e foi tirando o revólver. Afastou e atirou", disse.
Após atirar contra o adolescente, Gladstone fugiu e não tinha sido encontrado pela polícia até as 17h de ontem, segundo a Secretaria da Segurança.
O delegado Waltamir Pereira, da delegacia regional de Ribeirão das Neves, deu a mesma versão do rapaz à Agência Folha.
Segundo o delegado, os detetives que estavam na delegacia se preocuparam com o garoto e, por isso, Gladstone fugiu.
"Esse detetive tinha chegado da Corregedoria, onde responde a processos, e estava muito nervoso", disse o delegado, assinalando que o policial parecia ter problemas mentais -o mesmo foi dito pelo secretário da Segurança, Santos Moreira.
Gladstone responde a três processos na Corregedoria de Polícia. Além de abuso de autoridade, ele é acusado de tentativa de homicídio, em 95, e de ligações com o ex-policial Edmílson Valadares Moreira, preso recentemente pela Polícia Federal, acusado de tráfico de drogas. Esse policial já foi expulso.
Os parentes de Wesley estão revoltados com o crime. "Estou lutando por justiça, não vou abrir mão disso", disse o operário Fernando da Silva, pai de Wesley.
A assessoria da Secretaria da Segurança informou que os custos do enterro serão pagos pela Polícia Civil e que o Estado poderá pagar indenização à família.

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