São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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A CONTRA-OFENSIVA

Parece ter passado o ápice da indignação com o escândalo dos títulos públicos. Após larga exposição na mídia e inflamados discursos no Senado, as chances de punição de responsáveis mostram-se hoje menores do que se esperava. A última semana foi principalmente um período de contra-ofensiva dos possíveis envolvidos. Os resultados de CPI podem ser decepcionantes.
A comoção causada pelos atos de violência policial e talvez um certo cansaço com o tema dos precatórios ajudaram a desviar as atenções. Enquanto isso, os governadores Paulo Afonso e Miguel Arraes, que admitiram o desvio de recursos para outros fins, podem sair ilesos; em Alagoas, o relatório da comissão estadual foi rejeitado pela maioria situacionista.
No caso de São Paulo, o ex-prefeito Maluf tem negado sem maiores explicações as irregularidades constatadas pelo Tribunal de Contas; Celso Pitta recebeu manifestações de desagravo da parte de correligionários e insistiu na idéia de que não há provas contra si. Ademais, os vereadores de situação impediram até agora a instalação de uma CPI municipal, que poderia dirimir as suspeitas levantadas pelas investigações do Senado.
Não se pode prejulgar e é preciso, evidentemente, reservar aos possíveis envolvidos o mais amplo direito de defesa. Mas a recente contra-ofensiva baseia-se mais na ação política e em evasivas genéricas do que na contestação fundamentada dos indícios de irregularidade.
Relatório do Banco Central apontou operações lesivas à prefeitura na gestão Maluf-Pitta. O atual alcaide então respondeu que nem sequer recebera tal documento. As explicações pararam por aí. O TCM paulistano afirmou que Maluf desviou R$ 607 milhões do pagamento de precatórios para outros gastos. O ex-prefeito nega, mas não explicou onde estaria o dinheiro, que o TCM não localizou nos cofres municipais.
Apesar desses e outros indícios, os envolvidos insistem na versão de que não haveria comprovação judicial de irregularidade. Talvez. Mas é inegável que há um cheiro de pizza no ar.

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