São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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A nova Guerra Fria - 1

CLÓVIS ROSSI

Munique - A Guerra Fria não acabou. Apenas mudaram os contendores. Antes, era uma disputa ideológica entre dois modelos absolutamente antagônicos. Agora, é uma disputa entre EUA, Japão e Europa continental para ver qual das variações do capitalismo triunfante é a melhor.
O humor hoje predominante favorece o ultraliberalismo norte-americano. No início da década, no entanto, os norte-americanos estavam vergados pelo que se chamou "declinismo", ou seja, uma tendência supostamente irreversível de declínio da América e de ascensão do Japão.
Hoje, o "declinismo" contamina 11 de cada 10 membros da elite européia. O modelo de bem-estar social predominante na maioria dos países europeus parece condenado à morte, vítima da globalização. Como esta exige custos cada vez mais baixos, para manter uma empresa na competição globalizada, uma Europa de alto custo social é vista como ultrapassada ou prestes a sê-lo.
O Japão também é dado como paciente terminal, com seu modelo de emprego para a vida toda, proteção ao mercado interno, uma burocracia poderosa e influente.
É provável, no entanto, que os profetas do "declinismo" se equivoquem tanto em relação ao Japão como à Europa, como antes erraram em relação aos EUA.
Basta lembrar que o Japão, em suposto declínio, cresceu em 96 mais do que qualquer outro de seus parceiros do G-7, o clube dos sete mais ricos do mundo.
E que, em uma semana, digamos, normal, morrem mais norte-americanos vítimas de armas de fogo do que europeus ocidentais em um ano inteiro.
Não é um dado macroeconômico, como a moda mandaria citar, mas diz bem dos efeitos de cada modelo.
Por isso mesmo, qualquer profecia sobre o ganhador da nova versão da Guerra Fria é prematura, se é que haverá um vencedor desta vez.

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