São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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A polêmica sobre o sigilo

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - A decisão do Supremo Tribunal Federal, de impedir que seja quebrado o sigilo telefônico de um dos envolvidos no esquema dos precatórios, levou alguns senadores a dizer, erroneamente, que isso prejudicaria os trabalhos da CPI.
Essa afirmação é um grande engano. Por duas razões básicas.
Primeiro, porque a quebra do sigilo telefônico é o método que menos tem contribuído para o avanço das investigações. Descobrir que uma pessoa falou com a outra é apenas um indício muito tênue de irregularidade. Nunca uma prova cabal.
A segunda razão da pouca importância da decisão do STF é que se trata de algo temporário. A sentença final ainda não foi tomada. E a CPI terá chance de se defender.
O senador Romeu Tuma (PFL-SP) considera "curiosa" a decisão do STF.
Segundo Tuma, a quebra de sigilo telefônico está sendo solicitada pela CPI por intermédio da Polícia Federal. A PF, por sua vez, só procede com o pedido depois de obter ordem judicial. Nunca antes.
"A PF obteve uma ordem judicial, e precisamos explicar isso para o STF. A CPI vai enviar essas explicações, e acho que podemos reverter a decisão atual", diz Tuma.
Além de tudo isso, ao que parece, a CPI afinal decidiu se preocupar com o que há de mais importante para ser feito: rastrear os receptores das centenas de cheques encontrados.
Esses cheques foram emitidos por empresas de fachada usadas pela máfia dos precatórios. Foram parar em contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas de todo o país.
Um desses cheques foi parar na conta da Embaixada do Japão. No valor de R$ 76.381,95, o cheque foi usado numa prosaica troca de dólares no mercado paralelo.
Depois de quase dois meses mofando na CPI, esse cheque será investigado na terça-feira por Tuma. Ele tem uma visita marcada para esse dia à embaixada japonesa.
Se descobrir qual foi o doleiro, Tuma terá outro fio de meada para puxar.

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