São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A dignidade da farda

JAIR BOLSONARO

O pior momento para adotar qualquer decisão é aquele em que todos estão tomados por um violento estado de emoção. As medidas provisórias são decisões assumidas por um seleto grupo do Executivo sem o devido embate democrático no Congresso, causando revolta em todos, a exemplo da MP do confisco da poupança. Num Estado Democrático, se é assim que queremos, o amadurecimento das idéias deve ser uma prática obrigatória.
Sugiro ao secretário de Direitos Humanos, que faz parte desse seleto grupo do Executivo, que, antes de levar avante sua proposta de sumária extinção das polícias militares, negocie uma retirada das ruas e consequente recolhimento temporário aos quartéis de todos os PMs, de soldados a coronéis, para que a população possa sentir os efeitos de uma futura extinção.
Caso a violência venha a diminuir ou até mesmo a se extinguir, como pregam os falsos defensores dos direitos humanos e ONGs, que se tomem então, as providências.
Desmilitarizar as PMs também deveria passar por um processo de avaliação. Que se coloquem à paisana, nas ruas, todos os PMs e que se analise o termômetro da criminalidade, bem como as dificuldades no exercício da autoridade sem as divisas hierárquicas.
Tenho certeza de que isso seria o caos. Num confronto, as armas cuspindo fogo e corações a 200 batimentos por minuto, o segundo a mais para saber quem é inimigo ou não, dada a falta de uniformes, passa a ser o tempo entre a vida e a morte.
A desmilitarização, por si só, levará à extinção das nossas PMs. Ou essas centenárias instituições estariam condenadas ao total descrédito, pela impossibilidade do exercício do comando quando em ação.
A proposta desmilitarizadora é simplista, bem como uma simples demissão de um secretário de Segurança não muda a índole dos responsáveis pela execução da segurança.
Partindo-se da realidade de que quase só os desafortunados procuram empregos de parcos R$ 400 mensais em que o risco de vida é diário, os governadores deveriam se preocupar, e muito, com o recrutamento e a seleção para as PMs.
A farda é uma peça inibidora de desvios de conduta. Ao policial mal selecionado, por absoluta ausência de estímulo, o traje à paisana passa a ser um convite para comportamentos reprováveis. Será que a Polícia Civil, por não usar farda, vive dias de glória?
Os governadores devem se lembrar de que quem dá a missão dá os meios, e os meios para atender a população não podem ser executados por um homem mal remunerado, desaparelhado, com pouca cultura e sem uma farda digna, que o identifique claramente quando a serviço da sociedade.
Por si só, prestigiada e hierarquizada em seus uniformes, a PM, apesar da difícil missão de proporcionar a segurança pública em tempo de paz, gozará do mesmo prestígio das nossas Forças Armadas em tempo de guerra.

Texto Anterior: CNBB em Itaici
Próximo Texto: Questão central?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.