São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Cosipa vive dia de tensão e Santos pára

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUBATÃO

A usina da Cosipa, em Cubatão (SP), viveu durante todo o dia de ontem um clima de tensão, com pelo menos quatro tentativas de invasão e o bloqueio de todos os acessos à empresa.
Os manifestantes fizeram fogueiras, colocaram pedras, pedaços de madeira e de ferro, para obstruir a entrada da companhia.
A concentração dos 500 manifestantes em frente à Cosipa fez com que a Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) fechasse a rodovia Piaçaguera-Guarujá às 17h35 de ontem. Segundo a Dersa, não havia previsão de reabertura da rodovia, que permanecia fechada até as 22h. A única opção para entrar ou sair do Guarujá era a balsa.
Não houve troca de turno à tarde, do pessoal operacional, porque o ônibus não conseguir chegar à empresa, já que a Piaçaguera-Guarujá fora bloqueada e os acessos à siderúrgica também.
Os 8.000 funcionários da empresa (3.000 da Cosipa e 5.000 de empreiteiras) não saíram da fábrica por conta dos bloqueios dos acessos à empresa.
O porto de Santos permaneceu parado ontem em razão da greve deflagrada pelos estivadores e demais trabalhadores avulsos.
A operação dos navios é a principal razão do impasse entre Cosipa e estivadores. A empresa não aceita negociar sem que seus empregados operem os navios. Estivadores não querem perder o monopólio na contratação de mão-de-obra.
Por isso, houve a invasão de dois navios operados pela Cosipa.
Ontem, a Polícia Federal retirou, no início da manhã, 22 estivadores dos navios Vancouver e Marcos Dias. Eles saíram pacificamente.
Segundo a Codesp, administradora do porto, dos 20 navios atracados, somente três puderam operar, porque usavam equipamentos automáticos.
Ameaça de invasão
A tensão em frente à fábrica da Cosipa começou às 9h30, quando se anunciou que os dois navios desocupados estavam sendo operados por pessoal da empresa.
Os trabalhadores exigiam que a operação fosse interrompida sob ameaça de invadir a fábrica, cujas instalações eram patrulhadas por mais de 300 policiais militares.
As deputadas estaduais Maria Lúcia Prandi e Mariângela Duarte, ambas do PT de São Paulo, entraram na fábrica para pedir ao comando do policiamento que intercedesse pela interrupção das operações nos navios.
O pedido teria sido repassado ao comandante-geral da PM, Claudionor Lisboa. Os navios teriam paralisado a operação, às 10h de ontem, mas o trabalho foi retomado à tarde.
O episódio mais grave aconteceu às 11h50. Estivadores protestaram contra a presença de atiradores da PM postados nos telhados e que supostamente estariam apontando armas para os manifestantes.
Por esse motivo, estabeleceu-se um tumulto diante de uma das portarias. Foram atiradas pedras contra os PMs, que, perfilados do lado de dentro da fábrica, se protegeram com escudos.
O tumulto se dissipou às 12h05 devido à chegada do ônibus que trazia os trabalhadores que haviam invadido os navios.
Heróis e fogueiras
Os manifestantes deixaram então a portaria para recepcionar os estivadores que ocuparam os dois navios por 13 dias, saudados como heróis.
Após a chegada do ônibus com os invasores dos navios, os manifestantes fecharam todas as vias de acesso à Cosipa.
O chamado viaduto da Cosipa foi bloqueado com três fogueiras de pneus. Não houve intervenção da Polícia Militar, que somente sobrevoou a área com helicópteros.

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