São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Medida anticonsumo pode ser aprovada já neste mês

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os seguidos déficits da balança comercial podem forçar o governo a adotar ainda neste mês medidas de restrição ao crédito para segurar o crescimento da economia em 1997.
Ainda não há uma decisão final da equipe econômica, mas o assunto está em permanente discussão, assim como o acompanhamento dos dados sobre a atividade econômica.
Esses problemas devem ser discutidos novamente na reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) prevista para a próxima semana. As restrições ao crédito, porém, podem ser adotadas por normativos do Banco Central.
Embora não haja medidas definidas, a equipe econômica já sabe o que pode ser feito: limitação do prazo de financiamento no comércio e restrição à compra de carros por meio de consórcios, por exemplo.
Crédito explode
Os dados sobre o volume de crédito oferecido pelos bancos às pessoas físicas e jurídicas estão sendo acompanhados de perto pela equipe econômica. O que mais preocupa é o volume de crédito para pessoas físicas.
Em janeiro do ano passado, o volume de crédito para pessoas físicas foi de R$ 13,3 bilhões, conforme dados do Banco Central. No começo de março último, o saldo desses empréstimos estava em R$ 20,3 bilhões.
O volume de empréstimos para pessoas físicas aumentou principalmente nas operações para aquisição de bens. De 29 de outubro do ano passado até 5 de março deste ano, esse saldo passou de R$ 5,3 bilhões para R$ 8,7 bilhões.
Ainda não há decisão sobre as medidas porque o governo quer evitar mudanças desnecessárias. Dois fatores, porém, contribuem para forçar uma decisão neste mês: calendário político e situação da balança comercial.
Eleições de 98
No caso do calendário político, as medidas de restrição produziriam resultados ao longo do segundo semestre. Dessa maneira, o governo poderia flexibilizar essas restrições novamente no primeiro trimestre do próximo ano.
Ou seja, num cenário de crescimento econômico e estabilidade da inflação a reeleição de Fernando Henrique Cardoso é muito mais fácil. Se as medidas forem necessárias e demorarem a ser adotadas, o cenário econômico poderá não ser tão bom em 1998.
A deterioração do saldo da balança comercial também pode forçar a equipe econômica a adotar uma decisão. A estimativa do mercado é que as importações deste mês superem as exportações entre US$ 600 milhões e US$ 700 milhões.
Se isso acontecer, o déficit acumulado nos quatro primeiros meses deste ano ficará próximo de US$ 4 bilhões -foi de US$ 3,057 bilhões até março. E parte desse resultado decorre do aumento de consumo.
"O aumento de consumo está acontecendo devido à oferta de crédito e não pelo aumento da renda", afirmou o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, sócio de uma consultoria em São Paulo.
Nóbrega disse que o governo tem três outras alternativas: 1) não fazer nada; 2) fazer uma desvalorização cambial; e 3) fazer um ajuste fiscal. "Mas não é possível adotar agora nenhuma delas", disse ele.
Dessa maneira, afirmou, as soluções vão se restringindo. "Há um claro processo de deterioração do saldo da balança comercial e o governo não pode fugir dessa situação", comentou Nóbrega.

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