São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Promessa do piano quer sair do país

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A mais nova promessa do piano brasileiro só quer saber de uma coisa: sair do país.
"Não tem jeito. Aqui, só é reconhecido quem tem um título conseguido no exterior", afirma o paranaense Humberto Ribeiro, 23, vencedor do 1º Prêmio Promon de Piano e que dá recital hoje à noite na sala São Luiz.
Realizado pela Fundação Cultural Promon e pela Rádio Cultura FM, sob a coordenação do pianista Gilberto Tinetti, o concurso teve seu resultado anunciado em 24 de novembro do ano passado.
Ribeiro recebeu prêmio de R$ 5 mil, uma viagem para Chicago (Estados Unidos) com despesas pagas e o recital de hoje à noite, além de apresentações com a Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica de Santo André e Orquestra de Câmara "L'Estro Armonico".
Se não chega aos R$ 10 mil oferecidos pelo Prêmio Eldorado, a premiação do Promon está bem acima da média das competições nacionais.
"Pelo meu terceiro lugar no concurso da Rádio MEC, do Rio de Janeiro, em setembro de 96, ganhei alguns brindes e um cheque de R$ 500, que só deu para pagar o hotel", afirma o pianista.
O paranaense venceu o concurso com repertório raro, que incluía o brasileiro Camargo Guarnieri e o argentino Alberto Ginastera.
"Esse negócio de ficar tocando só Chopin não dá", diz. "Os latinos, tanto na música quanto na literatura, estão no meu sangue", completa.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida pelo pianista, por telefone, à Folha.
*
Folha - Quando você começou a tocar?
Humberto Ribeiro - Aos nove anos. Mas só pensei seriamente em seguir carreira aos 17 anos, quando vim para São Paulo estudar. Sou formado pela Santa Marcelina e aluno de Gilberto Tinetti.
Folha - Quais as perspectivas para um bacharel em piano?
Ribeiro - No Brasil? Poucas. Em São Paulo, ainda é possível tocar, mas o retorno financeiro é insignificante. Por isso, estou querendo fazer um mestrado na Alemanha.
Folha - Você tem um concerto marcado com a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), em 9 de agosto. Quais as perspectivas de um solista jovem tocar com uma grande orquestra?
Ribeiro - Na minha vida, só toquei com sinfônica uma vez, na final do Prêmio Eldorado, em 93. Estou muito animado para tocar o "Concerto nº 2" de Chopin com a OSB. Falam muito mal da escrita para orquestra desse concerto, mas eu gosto dele.
Folha - Quais são seus ídolos do piano?
Ribeiro - Michelangeli, Arrau e Rubinstein.
Folha - Só gente morta?
Ribeiro - Entre os vivos, o brasileiro Jean Louis Steuerman. Acho-o muito sincero.
Folha - Por que você não gosta dos pianistas vivos?
Ribeiro - Sou chegado em gente que não tem medo de ser feliz. É impossível não gostar de gente como Pogorelich, Martha Argerich e Nelson Freire. Só que os pianistas antigos, por sua excentricidade, são mais interessantes. Os atuais, mesmo não querendo, acabam fazendo música enlatada.
Folha - Então, você procura interpretar com personalidade ao invés de se esconder atrás da partitura.
Ribeiro - Acredito que não basta uma grande obra: o intérprete tem que estar à altura dela. Gosto de ouvir a música tocada de maneira correta, mas com personalidade.
Folha - Você gosta de ouvir gravações?
Ribeiro - Assumi meu lado tecnológico. Ouço, pelo menos, três horas de música por dia. E não sou um fanático por meu instrumento. Gosto muito das cantatas de Bach e das obras orquestrais de Ravel.

Concerto: Humberto Ribeiro (piano)
Onde: sala São Luiz (av. Juscelino Kubitschek, 1.830, tel. 011/827-4111)
Quando: hoje, às 21h Quanto: entrada franca

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