São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Yes, nós temos salário

GILBERTO DIMENSTEIN

É melhor ganhar um alto salário no Brasil ou nos Estados Unidos?
Ao responder a essa pergunta, cada vez mais executivos americanos fazem as contas, conversam com amigos, arrumam as malas e se mudam.
São atraídos por um padrão de vida, com empregada e motorista particular, que desfrutariam aqui apenas se fossem milionários -uma empregada doméstica em Nova York não sai por menos de R$ 70 por dia.
"Estamos assistindo a uma revoada de executivos americanos para as empresas instaladas no Brasil", constata Antoninho Marmo Trevisan, um dos mais importantes consultores brasileiros de empresas.
Há duas maneiras de se encarar essa tendência: 1) massagear o ego nacional; 2) ver como a estrutura social brasileira é deformada.
Fico com a segunda.
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Segundo Antoninho Marmo Trevisan, o Brasil oferece salários a executivos competitivos internacionalmente. Pelo seu levantamento, eles embolsam por mês entre US$ 10 mil e US$ 15 mil.
O salário mínimo americano é, porém, dez vezes maior do que o brasileiro; o rendimento médio de um trabalhador é US$ 2.000 por mês, perto do que ganha nosso professor universitário.
Chegamos a um ponto tal de má distribuição de renda que conseguimos atrair um executivo de país industrializado, fazendo-o sentir-se milionário. Mas se chamássemos um operário, iria se sentir dez vezes abaixo de mendigo.
Se convidassem a empregada doméstica que arruma a casa desse executivo em Nova York, oferecendo o piso nacional, certamente imaginaria estar diante de uma piada ou maluquice.
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Má distribuição de renda não combina com democracia. Por isso, um dos focos de preocupação nos Estados Unidos são os rendimentos mais altos, cada vez mais distantes da média.
Num perturbador sinal dos novos tempos, o ressentimento se agrava porque, apesar do crescimento econômico, picos de lucros empresariais, o emprego está mais instável e o salário estável.
Principal executivo da Disney, Michael Eisner, embolsou no ano passado, entre rendimentos diretos e indiretos, US$ 205 milhões. Ou seja, US$ 561 mil por dia.
A tradução que irrita os dirigentes sindicais daqui: ele ganha em 12 meses o que um trabalhador médio americano levaria oito milênios, mais precisamente 8.269 anos, para ganhar.
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PS - Como a maioria dos grandes executivos americanos, parte do salário de Eisner vem em ações da própria empresa. É uma tendência que, segundo Trevisan, também cresce no Brasil para que o executivo aposte mais no sucesso de sua companhia.

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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